A possibilidade de José Sócrates não ir a julgamento causa-me calafrios. Entre outras coisas, não lhe perdoo ter-se deixado apanhar num dia do meu aniversário. E outra coincidência infeliz a propósito do mesmo, que deixo para outro dia. Eventualmente.
Humores pessoais à parte, dita possibilidade parece bem real. Afinal, do que se sabe, não existem provas directas para nenhum dos três crimes de corrupção de que está acusado o nosso ex-primeiro, esse homem tão bafejado pela sorte que mete nervos. Só por isso, pela inveja.
Sabendo da ambição – impoluta, de resto – do juiz Ivo Rosa por
provas inabaláveis, aquela possibilidade assume quase forma física. E dói. Isso,
e as mais de seis mil páginas que compõem o despacho mais esperado
(desesperado, desesperante, e eteceteras e já sei que não é assim que se
escreve) dos últimos tempos. Há-de haver motivos de força maior,
justificadíssimos, para tanta página, mas é coisa que me ultrapassa. Mesmo
sabendo dessa espécie de vocação jurídica – possivelmente, não só nossa – para
comunicar em linguagem adequadamente blindada. Será por isso que
facilmente se cruza a linha da (i)legalidade. “Facilmente”, salvo-seja, há que
ter contactos e conta bancária adequados ao eficaz exercício da coisa.
Entretanto, ainda
não percebi se o doutor Júdice, à terça-feira, faz comentário político ou coscuvilhice de bairro; com perdão para os bairros, que os há sereníssimos. Não é caso único, honra
lhe seja feita, e, se calhar, as duas coisas são indissociáveis e a sonsa sou eu.