quarta-feira, 7 de abril de 2021

A possibilidade de José Sócrates não ir a julgamento causa-me calafrios. Entre outras coisas, não lhe perdoo ter-se deixado apanhar num dia do meu aniversário. E outra coincidência infeliz a propósito do mesmo, que deixo para outro dia. Eventualmente.

Humores pessoais à parte, dita possibilidade parece bem real. Afinal, do que se sabe, não existem provas directas para nenhum dos três crimes de corrupção de que está acusado o nosso ex-primeiro, esse homem tão bafejado pela sorte que mete nervos. Só por isso, pela inveja. 

Sabendo da ambição – impoluta, de resto – do juiz Ivo Rosa por provas inabaláveis, aquela possibilidade assume quase forma física. E dói. Isso, e as mais de seis mil páginas que compõem o despacho mais esperado (desesperado, desesperante, e eteceteras e já sei que não é assim que se escreve) dos últimos tempos. Há-de haver motivos de força maior, justificadíssimos, para tanta página, mas é coisa que me ultrapassa. Mesmo sabendo dessa espécie de vocação jurídica – possivelmente, não só nossa – para comunicar em linguagem adequadamente blindada. Será por isso que facilmente se cruza a linha da (i)legalidade. “Facilmente”, salvo-seja, há que ter contactos e conta bancária adequados ao eficaz exercício da coisa.  

Entretanto, ainda não percebi se o doutor Júdice, à terça-feira, faz comentário político ou coscuvilhice de bairro; com perdão para os bairros, que os há sereníssimos. Não é caso único, honra lhe seja feita, e, se calhar, as duas coisas são indissociáveis e a sonsa sou eu.