A minha Lua permanece
a mais bela de todas as luas. Ainda há pouco, ao início da madrugada, era uma imensa
gota de madrepérola, redonda, redonda, suspensa de um céu morno e sem nuvens,
inundando de luz a superfície do mar. E o mar amoroso deixando-se banhar. Uma vasta tela
de seda, liso, liso, quieto, excepto no limiar das sombras, onde o luar
fervilhava em borbotos descompassados como cócegas. Tão brilhante, tão
brilhante, o meu Céu aclarando-se tão descaradamente, que, por momentos, pensei
ter esquecido uma lâmpada acesa na varanda. Mas não. Era apenas uma parte do
Mundo a existir lá fora numa aguarela prateada, alheio à minha existência.