Às vezes leio como quem ama. Bebo das mesmas palavras onde receio naufragar. Também há dias em que o meu céu desmaia em cores suaves, como o bater das asas de uma borboleta. Aveludado. Um instante, e depois outro, e depois outro. Quantos batimentos até explodir a mais indomável das desordens? Há uma muralha inacabada de nuvens ainda densas e baças que se arrasta em direcção ao mar como um vestido de noiva, como numa peregrinação. Lentamente, enquanto conto os silêncios que fazem as coisas que não podem ser ditas. Um a um, como quem conta as pétalas de uma história adiada. Não dei pelo dia mais longo, e nem sempre o meu coração bate devagar.