"O sonho é a pior das drogas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate — mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.
Como um espectáculo na bruma
Aprendi nos sonhos a coroar de
imagens as frontes do quotidiano, a dizer o comum com estranheza, o simples com
derivação, a dourar, com um sol de artifício, os recantos e os móveis mortos e a dar música, como para me embalar, quando as escrevo, às frases fluidas da
minha fixação."
Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego