quarta-feira, 16 de junho de 2021

Sabor a sal. Cortante. Húmido. Um quadrado fino de chocolate negro a morrer-me na boca. O canto profundo e grave do vento. O pranto morno da chuva como areia fina, lamurienta, escorrendo pelo dorso despido da duna. O meu banco de tábuas estreitas, de frente para o mar, possuindo-se de espantos. E o mar em sobressalto. Ou mudo, de dias quietos. E a luz da lua cheia, enamorada, tingindo-o de prata. O despontar da alvorada enfeitada de véus estriados em amarelo-limão, a longa cauda evaporando-se em espasmos violeta. O cheiro a terra molhada e o rugir ensandecido da tempestade depois do relâmpago. O sol suave de Outono, numa carícia dourada e lenta, a água fresca que jorra da fonte numa torrente insubmissa e a luz que se estilhaça em vitrais multicolores. Cristalinos. Arco-íris perfeitos. O estalar do tempo num arroubo de saudade. O cheiro intenso do café amargo acabado de fazer. Sempre. E o silêncio. Ressoando como preces.