quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A poesia continua a não ser a minha leitura preferida. Até porque creio que a poesia existe para ser lida em voz alta, declamada de facto, os versos, insolentes, ecoando contra as entranhas. Ainda assim, nos últimos tempos tenho ensaiado uns passos. Nessas pausas entre tarefas que não me bastam para descontrair lendo meia página de um livro daqueles a que chamamos romance mesmo que encerre a mais insana das tragédias. Um poema pode caber na modéstia, na mudez, desse espaço breve. Ou um conto, uma carta, uma crónica. De momento, vou enchendo a estante e a leitura de algumas dessas coisas. Apetece-me um tempo contado e curto, exacto, que me agarre a prazo mesmo que me esmague no entretanto. E os livros são como as viagens. Os meus livros e as minhas viagens. Sete pecados capitais. Há sempre mais um volume, uma vertigem, um caminho urgente e inacabado. Um deslumbramento ainda agora desconhecido. Um soletrar na ponta dos dedos, linha a linha, boca a boca, a lua cheia à flor da pele, o desfiar aveludado do silêncio onde por vezes te encontro.