quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Ainda a propósito do estravagante juiz no seu lugar e seus robertos, diz-me uma amiga que eu estou a desvalorizar o que não pode ser desvalorizado. Que aquele grupelho de menos que gente não é chalupa, como se diz agora, é realmente perigoso. Que se não dermos atenção à coisa, a coisa agradece, engrandece e aquilo tem tudo para correr mal. É o capitólio em versão caseira e mais não sei o quê. Que eu tenho mesmo mesmo que abrir uma conta no Twitter, outra no Facebook, e ler com os meus olhos o que por ali escorre para perceber bem percebida a amálgama de desalento e ódio que tomou algumas consciências (inconsciências, corrijo eu) de assalto e que se continuarmos a esgrimir o argumento dos brandos costumes corremos o risco de falecer sem dar pelo golpe. Ela não disse tudo exactamente assim, mas foi exactamente assim que eu a entendi. E falou da informação que, nas redes, viaja à velocidade da luz. Literalmente. Disso eu percebo melhor. Do resto, nem tanto. Tenho dificuldade em levar a sério os fantoches do senhor juiz e daquele outro patusco, o Ventura. Não porque desvalorize o perigo que possam representar, mas porque, simplesmente, não acredito na farsa que são os próprios. Donald Trump, Jair Messias Bolsonaro e Santiago Abascal são realmente maléficos. São aquilo mesmo. Acreditam nas mensagens que fazem chegar às massas e as massas, dentro e fora das redes, levam-nos a sério. Os que os veneram e os que se lhes opõem. Castro e Ventura – o desgraçado do Fernando Nobre ainda não sei bem – são uma imitação pífia. Uma encenação de quarta ou quinta categoria. Desligam-se as câmaras e esvaziam-se. Não são negacionistas, são oportunistas de vão de escada, a esgravatar na latrina dos outros à cata das sobras. É o que eu acho e o que eu acho vale o que vale. Nada, para o caso pouco provável de não ser evidente. Mas, o elogio da dívida, que tantos enaltecem e eu também, não se lhes aplica, porque a dúvida – ali, muitas vezes simulada – serve uma vontade que não procura esclarecer, antes confundir. O mundo inteiro uniu-se para nos tramar e só eles é que não vão na cantiga. É preciso desobedecer. Tão romântico. Principalmente se a desobediência for acarinhada pelas regras democráticas de que se burlam os donos dessa Verdade que só os próprios conhecem por obra e graça do espírito virtual da vontade de baralhar.

Há uma diferença tão gritante que devia ser evidente entre rejeitar que o Estado mande em nós mais do que pode e deve e embarcar nas mais estapafúrdias teorias da conspiração; entre dar voz às dúvidas da ciência e dar palco a um bando de palermas que se informa pelo divino ou pelo oculto, acusando os que acreditam na ciência de “falta de provas”, enquando a exigência dos crentes se basta na sua própria fé travestida de opinião, fundamentada noutras opiniões igualmente crendateiras. Aos devotos, basta com acreditar. A dúvida deu lugar à imbecilidade janota, comparando o que não é comparável. E a distração vai fazer-se pagar cara. Tremo só de pensar no desastre que se anuncia. Já sei que os resultados das próximas eleições autárquicas são só os resultados das próximas eleições autárquicas. Como é da praxe, os vencidos vão dizer que é exactamente e apenas isso e os vencedores farão a ponte para o prenúncio de vitória nas eleições seguintes. Temo que o PSD de Rui Rio desapareça mais depressa do que o CDS de Francisco Rodrigo dos Santos. Não morro de amores por nenhum dos dois, mas uma oposição que resista, de resistir com maiúscula, vai demorar a erguer-se. Se este PS se perpetuar no poder, adormecidos que estamos  e estamos , não imagino que Portugal nos sobrará no esgotar da bazuca. Não haverá príncipe que nos salve.