terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Rui Rio é um desastre comunicacional sempre à espera de acontecer. Não é possível tanta falta de habilidade. O homem parece empenhado em esmagar num dia o pouco que foi capaz de consolidar no dia anterior. Alguém que o convença a apagar a conta do Twitter; ou, no mínimo, a contar até dez antes de publicar o que quer que seja, por precaução. Não sei, um duche de água fria, declamar um soneto de Bocage, qualquer coisa que o refresque e o distraia antes de cair em tentação. No limite da paciência, digam-lho em alemão, pode ser que resulte melhor. Ainda assim, continuo a pensar que o Twitter tem a demoníaca capacidade de despertar o Mr Hyde que há em cada um de nós. Um estranho caso, efectivamente.

No resto, Rui Rio tem razão. Também achei pornográfico o desdobramento em entrevistas a que se prestou o director da PJ. Não tendo sido por desejo de protagonismo – e creio que não foi –, sobra a demanda por reclamar um orgulho ferido de morte. Também é importante, mas soa quase a desespero. Teria bastado aquela conferência de imprensa da parte da manhã.

Esperemos, agora, que a montanha de vénias e parabenizações exaltadas pelo alívio de nos mostrarmos menos papalvos do que Rendeiro nos fez parecer, não venha a parir um rato – mas não é cinismo duvidar. A advogada de João Rendeiro já fez saber que a extradição do nosso contentamento – e encantamento – colectivo poderá demorar anos. Que os tempos de lá não são os tempos de cá, e, francamente, não sei bem que tempos serão os mais inférteis em matéria de justiça. Os de cá parecem ser sempre os tempos adequados a garantir o eterno descanso dos prevaricadores. De alguns, evidentemente. Eventualmente, de prescrição em prescrição até que a morte, finalmente, separe o criminoso do crime. Ou o inocente da possibilidade de reclamar reparação, o que constitui outro atropelo insuportável. E não há nada de justiça em exibir, nas televisões, a imagem de um João Rendeiro em pijama no momento da detenção; não tem nada a ver com o que eu penso dele, e penso muito mal.