Nos
últimos dias, ouvi várias intervenções do presidente do Colégio de Pediatria da
Ordem dos Médicos. Entre outras coisas, Jorge Amil Dias, referiu que o estudo
realizado em crianças dos cinco aos onze anos – de cuja avaliação pela Agência
Europeia do Medicamento resultou o parecer favorável à vacinação de crianças naquela
faixa etária – avaliou, apenas, se as crianças desenvolveram anticorpos: “não
mostrou que aquela população ficasse mais protegida, não mostrou que tinha
diminuído a contagiosidade ou que tinha alterado a epidemiologia". Referiu,
ainda, que “a vacina tem sido muito eficaz a evitar mortalidade, a reduzir
morbilidade nas populações que têm esse risco”, mas, “não impede a transmissão,
nem a aquisição do vírus". Além da reduzida dimensão da amostra.
Jorge Amil Dias não é um perigoso negacionista, que eu saiba. E, devo dizer, os negacionistas, mais ou menos chalupas, merecem todo o género de piadas que se possa urdir à sua custa. Mas, há-de haver um meio termo entre a alucinação anti-vacinas-barra-teorias-estrambólicas-da-conspiração e a outra, para onde parecemos estar a resvalar, mesmo os que, como eu, são pela Ciência, nomeadamente, pelas vacinas. As dúvidas sobre os benefícios de vacinar crianças entre os cinco e os onze anos são mais do que legítimas, face ao que (não) se sabe até ao momento. Qual é a normalidade que a vacinação em crianças daquela faixa etária vai trazer? Há dúvidas ou não há dúvidas no binómio risco/benefício, naquela faixa etária? Aparentemente, há. E usar a vacinação de crianças tendo como maior benefício a prevenção de confinamentos – mesmo sabendo que o “confinamento” seja potenciador de problemas maiores de saúde mental, limitação de aprendizagens, e outros igualmente preocupantes – parece-me uma subversão do acto de vacinar.
Se isto não é uma forma de chantagem, parece.