A
propósito da celebração do Dia Mundial da Leitura em Voz Alta (mentira: nem me
lembrei, para não variar, que existe e foi há dois dias um dia mundial da
leitura em voz alta), fui recuperar uma leitura em voz alta de parte do Auto
da Barca do Inferno, de Gil Vicente. O meu filho leu-o, e “deu-o”, no ano
lectivo passado – continua a fazer parte do programa de Português do 9º ano –,
e chegava a casa maravilhado com aquilo. Este ano, é uma das minhas afilhadas de coração a deslumbrada. Em parte, pelos “palavrões”, inevitavelmente, e pela liberdade infantil
de os pronunciarem em voz alta, na leitura sem censura (parto do desejo, não necessariamente do princípio, com assumida ingenuidade, que nenhum dos dois diz palavrões em voz alta noutro contexto
qualquer). E poderia ser só, mas creio que é mais. É preciso algum talento para
ler em voz alta o Auto da Barca do Inferno. Devia ser tentado, saboreado, pelo menos, uma
vez.