terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Morder o Anzol

A nova polémica à volta do Chega era previsível e é cansativa. E perigosa, porque corremos o risco de ver Governo e a Oposição que sobra a morder o anzol de todas as vezes e durante os próximos quatro anos, embora por motivos diferentes.

O Chega está, como sempre esteve, apostado em criar fumo com ou sem fogo, de modo a cumprir a sua agenda cada vez mais arrojada: o que a Democracia uniu, a Democracia há-de ser capaz de separar, espero, mas, até lá, trata-se de uma vontade legitimada. Infelizmente.

Ao PS, o fumo interessa porque ensombra e distrai, porque desvia e entretém, e, no entretém, a Comunicação Social esgadanha-se por dar cartas também, na guerra aberta das audiências e shares e outras coisas que tais mas que já não sei dizer.

A "vice-presidência da Assembleia da República" era coisa bastante mais simples: o Chega propunha – e, seguramente, propôs com propósito, antecipando o repasto guloso –, o Parlamento votava e Diogo Pacheco Amorim não passava. Não seria inédito: uma eleição é uma eleição é uma eleição. O Chega talvez propusesse outro nome e outro nome e outro nome, o Parlamento não elegia não elegia não elegia, não sei se mais de três vezes ou menos de três vezes, até que, finalmente, a mesa da Assembleia da República se constituísse sem representação do Partido de André Ventura. Vitória vitória, acabava-se ali a história. Mas não. Claro que não. E, se nada mudar, adivinham-se quatro magníficos anos.

Outra coisa diferente é a decisão de António Costa de receber os “representantes da sociedade civil” excluindo o Chega dessa agenda. Isso sim, já me parece pouco inteligente, e jamais saberei expressar com a elegância devida o que eu desprezo tudo o que pretendem representar André Ventura e os seus discípulos, e de como gostaria tê-los visto a eles desaparecer.