A nova polémica à volta do Chega era previsível e é
cansativa. E perigosa, porque corremos o risco de ver Governo e a Oposição que
sobra a morder o anzol de todas as vezes e durante os próximos quatro anos,
embora por motivos diferentes.
O Chega está, como sempre esteve, apostado em criar fumo
com ou sem fogo, de modo a cumprir a sua agenda cada vez mais arrojada: o que a
Democracia uniu, a Democracia há-de ser capaz de separar, espero, mas, até lá,
trata-se de uma vontade legitimada. Infelizmente.
Ao PS, o fumo interessa porque ensombra e distrai, porque
desvia e entretém, e, no entretém, a Comunicação Social esgadanha-se por dar
cartas também, na guerra aberta das audiências e shares e outras coisas
que tais mas que já não sei dizer.
A "vice-presidência da Assembleia da República" era coisa
bastante mais simples: o Chega propunha – e, seguramente, propôs com propósito,
antecipando o repasto guloso –, o Parlamento votava e Diogo Pacheco Amorim não
passava. Não seria inédito: uma eleição é uma eleição é uma eleição. O Chega
talvez propusesse outro nome e outro nome e outro nome, o Parlamento não elegia não elegia
não elegia, não sei se mais de três vezes ou menos de três vezes, até que, finalmente, a mesa da Assembleia da República se constituísse
sem representação do Partido de André Ventura. Vitória vitória, acabava-se ali
a história. Mas não. Claro que não. E, se nada mudar, adivinham-se quatro
magníficos anos.
Outra coisa diferente é a decisão de António Costa de receber
os “representantes da sociedade civil” excluindo o Chega dessa agenda. Isso
sim, já me parece pouco inteligente, e jamais saberei expressar com a elegância
devida o que eu desprezo tudo o que pretendem representar André Ventura e os
seus discípulos, e de como gostaria tê-los visto a eles desaparecer.