Ontem fiquei a ver e a ouvir o documentário de Anton Corbijn, Depeche Mode – Espíritos da Floresta, na RTP2. Gosto de música, embora o meu refúgio não seja a música: os livros serão sempre o meu reduto, os meus anjos de guarda, e os meus demónios também. Mas há música de que gosto muito, e concertos de que gosto muito. Ontem prometi a mim mesma que não me deixo morrer sem voltar a ver um concerto dos Depeche Mode. Lembrei-me do meu amigo A., na minha adolescência longínqua (longínqua tem superlativo desses que terminam em íssimo – ou íssima, no caso?), que foi quem me deu a conhecer os Depeche Mode. Se Anton Corbijn tivesse acompanhado algum fã português, o meu amigo A. seria a escolha acertada.
Impressionou-me o testemunho da mulher que sofreu um grave acidente de automóvel, aos vinte e cinco anos, e que, ao acordar do coma, dois dias depois, não recordava nada da sua vida até aí – nem os pais, nem o namorado, nem os contornos da cidade onde vivia –, mas foi capaz de reconhecer uma música dos Depeche Mode. Nunca experimentei essa devoção absoluta, com sabor a culto; não na música. Espanto-me sempre com a gente que chora nos concertos. A música não tem esse efeito sobre mim. Suponho que não serei bem o que se pode chamar uma fã. Também não há muitos livros que me façam chorar, na verdade, talvez seja só um defeito meu, o de não saber chorar, muito menos em público. Também não danço em público, e não há nada de extraordinário nisso.