Herdou
o pragmatismo do pai. A sua inteligência limpa, cirúrgica; bastante irritante, às vezes. Herdou os meus olhos e,
gosto de pensar, também um pequeno pedaço do meu irrealismo e ausência, sem os
quais o mundo seria bastante mais insuportável. E a minha paixão pela leitura.
Ainda não a sente bem como paixão, mas eu já sei que é paixão.
Pergunta-me
se eu não tenho uma conta no goodreads. Diz-me que tem uma conta no goodreads,
que também é lá que descobre livros que quer ler, e pode impor-se metas de
leitura, mas eu não quero metas de leitura, nem grupos de leitura – “grupos de”
é coisa que não me convence.
Pediu-me para lhe comprar um livro que descobriu há uns dias, já não sei se no goodreads. É de Matt Haig – de quem creio que nunca antes ouvi falar – e conta a história de Nora, uma mulher infeliz que decide morrer e acaba por descobrir-se numa livraria onde cada livro conta a história de cada uma das vidas que poderia ter vivido se, a cada passo, tivesse feito uma escolha diferente. “É um conceito mesmo fixe, não achas?” É, é um conceito mesmo fixe, eu também acho. Quando acabares, também quero ler.