Mesmo não sendo uma fã que se preste ao choro, tenho o Personal Jesus como toque de chamada no meu telemóvel desde que tenho telemóvel desses espertos, onde podemos escolher a música preferida como aviso de chamada de voz. Nunca pensei nisso, se Personal Jesus é ou não é a minha música preferida, até porque sei que gosto muito mais de outra, Enjoy de Silence: se me perguntassem, não saberia responder – de tantas músicas que gosto, nem todas dos Depeche Mode, escolhi aquela porque escolhi aquela, e nunca mais me apeteceu mudar. Como alguns dos livros já lidos e relidos e que gosto de manter à cabeceira da cama, mesmo que nunca leia na cama. Não é espantoso que, de todos os livros que mantenho à cabeceira da cama, três sejam aqueles três, incontornáveis, de Emile Cioran, “Nos Cumes do Desespero”, “Do Inconveniente de Ter Nascido” e “Breviário de Decomposição”? Na verdade, “Nos Cumes do Desespero” não está lá de momento – o meu filho pediu-me que lho emprestasse, curioso que anda com a descoberta da filosofia, ou, mais exactamente, com a descoberta de alguns filósofos, e não sei se devia deixá-lo tão precocemente entregue ao desespero de Cioran, mas, antes comigo do que sem mim, vou estando atenta, vou perguntando, vou ouvindo e observando, sempre e não de agora, na ilusão de poder protegê-lo dos mundos que nem eu entendo bem, como se fosse esse o primeiro dever da maternidade, protegermos os filhos das agruras dos mundos que se lhes revelam – e que mundos viveriam os filhos, se não vivessem esses?
Também
vi Rebecca, na Netflix.
Rebecca,
Rebecca, ias tão bem nos primeiros planos, uma vibrante ameaça de gótico, o
romance inevitável, o despontar do mistério, a assustadora Sra Danvers, de
olhos flamejantes e ar picante de corvo. E, depois, nada; menos que nada e, ao
mesmo tempo demasiado, um drama esgotado. Dizem que o melhor Rebecca é o
primeiro, o do “mestre do suspense”, mas esse eu não vi. Vou ver. Qualquer coisa que me livre de todos os outros mundos que, por ora, não quero ver nem ouvir.