Do outro lado da rua os canteiros encheram-se de flores de jasmim. A meio da manhã e a meio da tarde – não sei se me distraio no tempo restante ou se os jasmins são realmente caprichosos nos seu desabrochar –, pela minha janela quase sempre aberta, o ano inteiro quase sempre aberta, entra o cheiro adocicado e forte das pequenas flores brancas e estreladas. Enjoa-me, o cheio do jasmim, e acho muitas das flores desengraçadas. Enjoa-me o cheiro do jasmim, como me enjoa o cheiro dos jacarandás, mas do outro lado da rua não há jacarandás. Há uma árvore baixa, de coroa aparada e rasa, e um coro de pássaros em assobios repenicados, que o motor engasgado de um carro velho teimando em não pegar acabou por espantar. Calaram-se os pássaros, calou-se o motor. Só o cheiro do jasmim ainda persiste. Ia contar que os jasmins cheiram-me sempre a morte, mas também não estou bem certa de que a morte cheire ao mesmo em cada canto escuro do mundo.