terça-feira, 23 de abril de 2024

Ainda sobre a desobediente Maria Teresa Horta, e apenas porque referi o livro de Patrícia Reis: a leitura revelou-se, afinal, muito menos interessante do que eu antevira. Que pena. Nem sou muito de biografias, mas algumas vidas intrigam-me, interessam-me. "Quando me proíbem, incandesço". É um pensamento magnífico.

É difícil escrever uma biografia de alguém ainda presente; mais que presente, amiga – é o primeiro alerta da autora. O segundo, igualmente verdadeiro, Maria Teresa Horta é a sua escrita, e, na sua escrita, a sua inimitável poesia: são uma só; conhecendo bem a sua obra, talvez não faça falta qualquer biografia. Seguramente. A vida de Maria Teresa Horta dará um livro, mas não é este.

Tenho uma admiração quase histérica por mulheres desta fibra. Desobedecer arriscando a vida. Vida com maiúsculas, mais do que respirar e habitar um corpo, embora essa também. É curioso como tem surgido tanta gente a amesquinhar o que o 25 de Abril nos trouxe, a digladiar-se entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro, como se não fossem os dois acontecimentos construtores da Liberdade que não havia antes. 

O fosso Esquerda-Direita cresce voraz, e há agora quem determine que a repressão imposta pela ditadura de Salazar era coisa quase mansa. Podia-se fazer tudo, inclusive, viajar, ao contrário do que alguns patetas para aí dizem, felizmente, temos o Observador. Talvez porque não éramos o Irão dos ayatollah, cujos esbirros perseguem e espancam até à morte as mulheres que ousam mostrar-se; a PIDE era não era tão má como a pintam e parece que havia respeito. Tenho ouvido coisas espantosas.

Sinto-me estranha e à margem de tudo isto. Não sou dessa esquerda nem dessa direita, de trincheiras. Não preciso de uma cartilha para decidir o que me parece certo ou errado, e há certos e errados dos dois lados da barricada. Gosto do 25 de Abril, é um dos dias em que me reconcilio com este país falido, cujas dores tomo sempre como minhas, que me enraivece na sua mofina e a que não deixo de chamar casa.

A (des)propósito, o que é isso de Sebastião Bugalho, de repente, ser cabeça de lista da AD às eleições europeias? Ouvi Montenegro, e parecia que estava a apresentar uma mascote... não percebo. "Mas para quê, Sebastião"?.