sexta-feira, 19 de abril de 2024



Tarde de chuva, a península inteira a chorar
Entro numa igreja fria como
Um círio cintilante
Sentada, imóvel, fumando em frente ao altar
Silhueta, um esboço
A esfinge de um anjo fumegante

Há em mim um profano desejo a crescer
Sinto a língua morta e o latim vai mudar
Os santos do altar devem tentar compreender
O que ela faz aqui fumando?
Estará a meditar?
Ai, ui, atirem-me água benta
Ajoelho-me, benzo-me, arrependo-me
Esconjuro-a atirem-me água fria
Por ela assalto a caixa de esmolas
Atirem-me água benta
Com ela eu desço ao inferno de Dante
Atirem-me água fria

Ai, ui, atirem-me água benta
Por ela assalto a caixa de esmolas
Atirem-me água fria
Por parecer latina calculo que o nome dela
É Maria
É casta, eu sei, se é virgem ou não depende
Da vossa fantasia

Por parecer latina suponho que o nome dela
É Maria
É casta, eu sei, se é virgem ou não depende
Da vossa fantasia