sábado, 18 de maio de 2024

A meu ver...


... um canalha é um canalha, independentemente da raça (vocábulo que eu cria prescrito e proscrito), da etnia e etc. André Ventura é, a meu ver, politicamente canalha. Intencionalmente, artificialmente, teatralmente, não importa.  Mas nem tudo o que diz se inscreve no discurso de ódio, ou eu não sei bem o que é um discurso de ódio. Não estou tão segura do escândalo que é o Presidente da Assembleia da República não ceder à fúria de um tipo gelado, como dizia o outro senhor, com os resultados que se viu. Não havendo uma fórmula mágica para impedir a proliferação daquele populismo tóxico e corrosivo, protofascista, talvez o melhor seja mesmo  no limite do que possa ser considerado crime (atirar piadas requentadas mais ademanes sobre a "preguiça dos turcos", ou a "paciência dos chineses" não parece)  deixar aquela turba de políticos de taberna, e de caverna, mostrar a massa de que é feita. Ainda sou suficientemente ingénua para acreditar que não há um milhão e tal de patifes naquele um milhão e tal de povo que votou no … coiso: seria uma forma demasiado simplista, demasiado cómoda de ver as coisas. Haverá os que gostam de ver arder, de terra queimada, sim, aqueles a quem servem todos os rótulos, mas há-de haver lugar ao repúdio e há-de haver outra gente, por mais desesperançada, que acabe por dizer chega ao chega. Se não for o caso, elejam-nos como Governo; em Democracia manda o povo, veremos quanto tempo resiste a virtude com slogans de barro.

De resto, há uma falta de cordialidade e decoro no discurso político que não é exclusivo daquele partido. A forma e os termos em que a nova Ministra do Trabalho se foi referindo, nos últimos dias, a Ana Jorge e ao seu trabalho na Santa Casa da Misericórdia são de uma rudeza espantosa, mesmo que houvesse verdade em tudo aquilo, e nem é certo. 

Não sei se tenho idade para dizer que nunca antes os homens e mulheres que fazem a nossa classe política me pareceram tão medíocres, mas nunca antes os homens e mulheres que fazem a nossa classe política me pareceram tão medíocres. Não ajuda nada, um Presidente da República cada vez mais alienado, que desbaratou, devassou, todo o capital de prestígio e simpatia de que dispunha no seu alto cargo, chafurdando na espuma suja dos dias, todos os dias, julgando-se imune a qualquer nódoa. Marcelo Rebelo de Sousa permitiu a André Ventura aquele número de circo sobre a traição à pátria, que o jornalismo de referência, por seu lado, se empenhou em bem cobrir, entre o cio e o nojo, como sempre que a actualidade ameaça lama.