sexta-feira, 2 de agosto de 2024


De pé, em frente ao túmulo, deixava os olhos repousarem, pela enésima vez, no rosto jovem e alegre, imortalizado na lápide de mármore branco. A carícia – fria como a pedra dura, porque não era homem de emoções – repetida ao longo de quase cinco décadas como um ritual sagrado, permanecia como uma penitência, redimindo-o, em parte, da perda que o amputara para sempre. Aos setenta e dois anos, era um homem amarguradamente só a quem a vida jamais havia sorrido, com excepção daquele fugaz amor de juventude, quando ainda mantinha a ingenuidade de pensar que o seu destino lhe pertencia. Idiota. O destino, para homens como ele, não admitia desvios nem devaneios. Fora escrito e forjado com a mesma dureza e disciplina que o epitáfio diante de si.