sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Paris, Paris

Outra vez?

É cansativo, eu sei, mas apetece-me voltar. 

 


Em Agosto (também já houve Julho, sim), sofro de uma espécie de síndrome de Drácula. Levanto-me ao pôr-do-Sol e deito-me ao nascer do dia, que é como quem diz, sobrevivo mal ao calor tórrido de Verão, à minha crónica tensão baixa, às areias de praia ferventes mais as histriónicas colunas de som portáteis e berrarias afins, a homens de chinelos no dedo pelas pedras da mortífera calçada portuguesa (em qualquer lugar, para ser sincera), e a minha tolerância a corpos suados é caprichosa: tem modos e luares. 

Em vez de me enterrar num caixão de terra profana e negra até que Setembro acabe e me devolva o frescor dourado de Outono, decidi-me a assistir às quatro horas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Com algum atraso e alguma batota, já que fui avançando nas partes menos interessantes – não sei se foi por aí que perdi a lua cheia dentro de um dos anéis olímpicos como numa moldura, no colo da Torre Eiffel: dizem que aconteceu, e eu acredito.

Adiante.

Foi grande e francesa, a festa. Criativa, arrojada. Exuberante.

Fiquei ainda mais perplexa com o “quadro” da polémica, naquele contexto.  Só nas imagens paradas – e não em todas – que enxameiam as redes pode surgir uma pequena analogia com essa Última Ceia, e talvez apenas por sugestão. Continuo a não encontrar grande beleza naquele trecho em particular, mas houve bastante mais naquela coreografia de Barbara Butch: é absurdo o rumo que aquilo tomou, com ameaças de morte, perda de patrocínios e o cantor francês que evocava o deus grego Dionísio a pedir perdão não sei bem porquê.

Parece que houve outro escândalo com a actuação de Aya Nakamura, que (também) cantou Charles Aznavour, acompanhada pela banda da Guarda Republicana Francesa: também vi e foi lindo. Formidáveis, os franceses Gojira, nas janelas da Conciergerie, onde assomavam representações de Maria Antonieta decapitada.

A chama olímpica suspensa num balão de ar quente, a cavaleira misteriosa sobre as águas do Sena, transportando a bandeira olímpica (que, depois, foi içada ao contrário, parece-me, mas quem nunca, não é?).

A homenagem às mulheres que marcaram a história de França. E a Marselhesa, no topo do Grand Palais e na voz de Axelle Saint-Cirel. Magnífico.