Outra vez?
É cansativo, eu sei, mas apetece-me voltar.
Em Agosto (também já houve Julho, sim), sofro de uma espécie de síndrome de Drácula. Levanto-me ao pôr-do-Sol e deito-me ao nascer do dia, que é como quem diz, sobrevivo mal ao calor tórrido de Verão, à minha crónica tensão baixa, às areias de praia ferventes mais as histriónicas colunas de som portáteis e berrarias afins, a homens de chinelos no dedo pelas pedras da mortífera calçada portuguesa (em qualquer lugar, para ser sincera), e a minha tolerância a corpos suados é caprichosa: tem modos e luares.
Em vez de me enterrar num caixão de terra profana e negra até que Setembro acabe e me devolva o frescor dourado de Outono, decidi-me a assistir às quatro horas da cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Com algum atraso e alguma batota, já que fui avançando nas partes menos interessantes – não sei se foi por aí que perdi a lua cheia dentro de um dos anéis olímpicos como numa moldura, no colo da Torre Eiffel: dizem que aconteceu, e eu acredito.
Adiante.
Foi grande e francesa, a festa. Criativa, arrojada. Exuberante.
Fiquei
ainda mais perplexa com o “quadro” da polémica, naquele contexto. Só nas imagens paradas – e não em todas – que enxameiam as redes pode surgir
uma pequena analogia com essa Última Ceia, e talvez apenas por sugestão.
Continuo a não encontrar grande beleza naquele trecho em particular, mas houve bastante
mais naquela coreografia de Barbara Butch: é absurdo o rumo que aquilo tomou,
com ameaças de morte, perda de patrocínios e o cantor francês que evocava o deus grego Dionísio a pedir perdão
não sei bem porquê.
Parece
que houve outro escândalo com a actuação de Aya Nakamura, que (também) cantou Charles
Aznavour, acompanhada pela banda da Guarda Republicana Francesa: também vi e
foi lindo. Formidáveis, os franceses Gojira, nas janelas da Conciergerie,
onde assomavam representações de Maria Antonieta decapitada.
A
chama olímpica suspensa num balão de ar quente, a cavaleira misteriosa sobre as
águas do Sena, transportando a bandeira olímpica (que, depois, foi içada ao
contrário, parece-me, mas quem nunca, não é?).
A
homenagem às mulheres que marcaram a história de França. E a Marselhesa, no
topo do Grand Palais e na voz de Axelle Saint-Cirel. Magnífico.