segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Pangloss...

Tem-me custado o regresso à actualidade. Começo por onde? De cada vez que tento assimilar um acontecimento absurdo, surge absurdo maior. Agora mesmo tenho na memória o entusiasmo de Marques Mendes por ter aprendido com a IL a palavra genuflexório. Clara de Sousa também nunca tinha ouvido. Não é dramático, mas é espantoso. Nunca leram Agustina. Ou Júlio Dinis. Ou Camilo Castelo Branco.

Há criminosos em fuga em todos os cantos do mundo; desses que se escapam das prisões também. O que torna tudo mais admirável em Portugal são estes parece que inevitáveis contornos de paródia: a cerca eléctrica que não funciona porque a luz vai abaixo; a escada que se guarda depois da fuga; a prisão de alta segurança sem director, um "chefe" de baixa há um ano e um guarda prisional para monitorizar 200 câmaras de vigilância. Os fugitivos são muito perigosos, mas fazemos piadas, como os tontos, para iludir os fracassos.

A Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna foi assaltada. Levaram oito computadores, mas só dois estavam a funcionar. As câmaras de vigilância filmavam, mas não gravavam. Parece o assalto aos paiós de Tancos: o sistema de video-vigilância não funcionava há anos – o que não impedia os guardas de substituir, diligentemente, as cassetes... – e foram roubadas muitas armas, mas obsoletas algumas; ou, se calhar, não. Não são assaltos, são limpezas sazonais.

A nossa desgraça é não haver quem se leve a sério. Importa pouco que seja um governo de esquerda ou um governo de direita. É uma mediocridade lavrada. Enraizada, interiorizada. Entre a incompetência e o amadorismo, meia dúzia de palavras de circunstância, fingir que há gente ao leme, quando não se vislumbra nem saber nem rumo. Poses patéticas, como as de Luís Montenegro de lancha no Douro, para "transmitir apreço" numa missão que exigia decoro por parte de quem ocupa o lugar de Primeiro-Ministro. 

O Mundo não vai melhor.