segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Não experimentei o sismo. Felizmente. Um dos meus maiores medos – desses em que não me permito pensar muito, para não me tornar histérica – é o de ser apanhada num desses grandes desastres naturais. Sei que, onde vivo, se sentiu fortemente. Conta-me uma amiga que foi um susto horrível: o ruído, o abalo. Talvez não tivesse sido tão impressionante se não tivesse ocorrido de madrugada, na tranquilidade do sono. Mas eu estava ainda em Bucareste, a aproveitar as últimas horas antes do regresso. Nem pequena Paris, nem nova Berlim: Bucareste. Decadente e bela, corrompida pelo tempo e pela História, austera, mas graciosa, viva, Bucareste de olhos velhos e prédios feridos, soberba na sua diversidade cultural, arquitectónica, religiosa, até. 

Quase não se ouve falar português; o “olá” sonoro, no interior do “Caru’ cu Bere”, enquanto admirava os vitrais, as pinturas nas paredes, as colunas douradas, apanhou-me totalmente desprevenida. Sim, estavam admirados como nós, com a beleza, a modernidade, a civilidade (todos os preconceitos que juramos não ter), haviam chegado há dois dias, nós partiríamos dentro de dois dias, era a primeira vez dela e a segunda vez dele, nós éramos estreantes em fim de viagem, com muitos quilómetros de boas memórias.