Cresci num bairro social. Os meus pais – a quem devo tudo
o que sou e adoro mais do que sei expressar – empenharam-se sempre em que nunca
nos faltasse o essencial, a mim e à minha irmã. Pudemos estudar, escolher uma
carreira, um caminho que, para eles, não foi possível; mas, para
nós, o tal elevador social funcionou. Devia ser assim.
Durante muitos anos, tivemos um grupo de amigos com quem saíamos uma vez por ano, no Verão, para um fim-de-semana prolongado: era o que chamávamos as nossas férias. Muitos desses amigos já faleceram, eram todos mais velhos que os meus pais, e guardo recordações maravilhosas desses tempos de menina.
Havia poucas crianças. Eu e a minha irmã, sempre as mais novas do grupo,
passávamos o ano a organizar um reportório de canções populares e a ensaiar para –
não acredito que vou escrever isto – cantarmos durante essas viagens, que
fazíamos num daqueles autocarros de excursão. O que começou com uma brincadeira
transformou-se em programa obrigatório. Cumpríamo-lo com imensa alegria,
divertíamo-nos imenso com aquilo. É claro que nunca faltavam canções de Marco
Paulo. Ainda sei de cor uma data delas.
Em memória dos bons velhos tempos, para os presentes e
para os ausentes,