quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

 

A Luisinha guardava o cadáver de uma cobra preservado em álcool, num enorme frasco de vidro transparente. Durante toda a tarde, de segunda a sexta-feira, a cobra permanecia à vista, pousada na mesinha da sala, adormecida no seu túmulo cilíndrico, guardando os meninos que ainda não iam à escola e a quem a Luisinha ensinava a ler e a escrever. A cobra era a guardiã severa, escamada e amarelenta, implacável na sua mudez de vidro. Ai de quem se portasse mal… A Luisinha nunca abriu o frasco, eu aprendi a escrever cobra e nunca mais soube dos outros meninos.