sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

 

O professor de Química Orgânica falava da água com amor. Imaginem, dois átomos de hidrogénio, um de oxigénio, juntos, polares, numa geometria angular. Uma molécula aparentemente simples, não é? E nessa simplicidade, um extraordinário fenómeno que molda oceanos, gera vida, desafia a banalidade. Sem a ligação de hidrogénio, delicada e poderosa, não existiriam rios abrindo vales, ou nuvens encaracoladas, gotas de chuva cruzando caminhos sobre o vidro da janela. Padrões singulares sobre a estrutura do gelo, gelo cobrindo a superfície dos lagos, insectos caminhando sobre as águas como Messias. Vêem, como o hidrogénio de uma atrai o oxigénio da outra, esse, o hidrogénio da próxima, uma dança íntima, invisível, e, no entanto, capaz de erguer o mar do seu próprio ventre; aquele vasto mar da Nazaré, implacável como uma sentença, um corpo denso, líquido, inclinado sobre o vazio, invocando o caos quando o céu parece vergar-se sobre o próprio ar, ali, rente ao vértice brumoso da onda. Na iminência do abismo. O mar é conspirativo, na Nazaré.