A maior parte das vezes, assistir ao telejornal ou ler a
imprensa escrita é um exercício deprimente. Entre incêndios vorazes e, muitas
vezes, criminosos que ceifam vida em todas as suas formas, sangrentos ataques
terroristas que, além de ceifarem mais vidas, estimulam mais reacções
vingativas e perversas, e essa admirável administração Trump que promete salvar
a America First (eu diria a America Only) nem que para isso
“paralise” o governo federal e seque os cofres dos serviços secretos, ler ou
ouvir notícias, dizia eu, não é para qualquer um.
No entanto, no meio do caos e da loucura, a bondade dos
homens também faz das suas. Infelizmente, não vende tanto como a violência
gratuita e, portanto, a comunicação social não lhe dá o devido destaque nem a
mesma atenção.
Vem isto a propósito de duas notícias (ou, mais
exactamente, duas breves passagens…) que eu já tinha lido e que a Laurinda
Alves destacou na sua crónica de ontem, no Observador.
Fernando Álvarez, nadador espanhol em competição numa
prova que se realizava em Budapeste, permaneceu sozinho, em silêncio, durante
um minuto, em homenagem às vítimas dos atentados de Barcelona. Cumpriu a
homenagem sozinho, mandando a competição às urtigas, depois da recusa da
organização do Mundial de Masters de Budapeste em “perder” mais um minuto que
fosse e, digo eu, no que quer que fosse!
Harry Athwal, turista britânico de origem indiana,
permaneceu (também ele) sozinho, de joelhos no chão de Las Ramblas, velando um
menino (da idade do seu próprio filho) que tinha sido colhido pela demanda, cega,
demente e assassina, de Younes Abouyaaqoub. Apesar das ordens da polícia para
abandonar o local e do medo que sentia, com certeza!, recusou perder a
humanidade e recusou-se a abandonar o menino em agonia: "He looked like my
son, I didn't want to leave him". O menino acabaria por morrer, mas Harry
não consentiu que morresse sozinho!
Por que não se dá o mesmo destaque a este tipo de
notícias? O Homem é, na sua essência, mais perverso e mau do que bom e,
portanto, há menos casos de bondade para documentar ou, simplesmente, a maldade
vende mais, fascina mais, logo, rende mais?
A minha singela homenagem a estes dois homens, porque
representam, de facto, senão a única, seguramente a arma mais eficaz de
combater o terrorismo, qualquer que seja a sua forma.