“Sei porém que este tipo de mulher não me representa em
momento algum, nem pode representar nenhuma mulher agredida. Aliás é o tipo de
mulher que eu gostaria de nunca me cruzar na vida, jamais por exemplo andarei
lado a lado numa manifestação de luta pela igualdade ao lado destas tipas.”
“Agora ver uma mulher que recebeu mais de 300 mil dólares
de um homem para ficar calada e ficou, demonstra o esgoto moral que o Metoo é.
Uma acusação de violação entre um casal que se relacionou está na capa de
jornais mas uma mulher receber 300 mil dólares de um homem para não falar em
público da relação e aceitar não é manchete, é normalíssimo...”
“Nunca recebi um euro de um homem para não falar sobre as
minhas relações porque jamais falaria sobre os homens com quem me relacionei.
As minhas familiares, amigas, colegas idem, nunca passei sequer perto de uma
mulher ou um acordo deste tipo.”
Aquelas frases preciosas – e outras mais, igualmente
elegantes e articuladas – foram escritas pela "historiadora, investigadora
e professora universitária", Raquel Varela. A mesma "historiadora e
especialista em conflitos sociais" que, aqui há uns anos, no programa Prós
e Contras, não soube o que responder a um miúdo de 15 ou 16 anos que vendia
T-shirts e pagava o salário mínimo às costureiras. As “mulheres deste tipo” não
sei bem quem são; o meu leque de amizades e familiares é mais variado e menos impoluto.
Mas, no caso, Varela referia-se ao tipo de mulher que ameaça a reputação de
Cristiano Ronaldo.
Há mulheres tão puras e virtuosas que não se misturam com
a escória. A violência sexual pode, asseguram-nos, acontecer a qualquer mulher,
mas…umas põem-se mais a jeito do que outras. A violação é um crime hediondo,
mas há tipas que estão mesmo a pedi-las. E, evidentemente, mulher séria, como
elas, jamais venderia a dignidade, porque, se vendesse, perderia
automaticamente, o direito a queixar-se. Então, não sabemos todos, como se
comporta uma verdadeira vítima de violação? Deve ser formidável ser dotado de
tanta sapiência e rectidão! E cansativo, também.
Do alto das suas cátedras amarelecidas e podres, muitos
estudam o povo, mas não lhe pertencem. Limitam-se a debitar sentenças ocas
embaladas numa presunção de intelectualidade, mas sem se misturarem muito,
porque o Povo é interessante como objecto de estudo, em abstracto; mas o povo,
esse que vive, ri e chora, é peganhento, cheira mal e é pouco educado. Talvez por isso, Raquel Varela tenha também,
em tempos, abominado o tipo de “fato de alfaiate de segunda, morador suburbano”
de Pedro Passos Coelho.
O feminismo de Raquel Varela é polido e erudito. O meu é
mais do tipo, nem todos os homens são violadores em potência, nem todas as
mulheres são santas. Mas, isso não se mede pela profissão, fama ou estatuto
social. E, tal como muitos portugueses, espero que Cristiano Ronaldo esteja
inocente ou que seja exemplarmente punido, se for culpado, independentemente do
tipo da tipa.