quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O Meu Feminismo É Melhor Que o Teu

“Sei porém que este tipo de mulher não me representa em momento algum, nem pode representar nenhuma mulher agredida. Aliás é o tipo de mulher que eu gostaria de nunca me cruzar na vida, jamais por exemplo andarei lado a lado numa manifestação de luta pela igualdade ao lado destas tipas.”

“Agora ver uma mulher que recebeu mais de 300 mil dólares de um homem para ficar calada e ficou, demonstra o esgoto moral que o Metoo é. Uma acusação de violação entre um casal que se relacionou está na capa de jornais mas uma mulher receber 300 mil dólares de um homem para não falar em público da relação e aceitar não é manchete, é normalíssimo...”

“Nunca recebi um euro de um homem para não falar sobre as minhas relações porque jamais falaria sobre os homens com quem me relacionei. As minhas familiares, amigas, colegas idem, nunca passei sequer perto de uma mulher ou um acordo deste tipo.”

 

Aquelas frases preciosas – e outras mais, igualmente elegantes e articuladas – foram escritas pela "historiadora, investigadora e professora universitária", Raquel Varela. A mesma "historiadora e especialista em conflitos sociais" que, aqui há uns anos, no programa Prós e Contras, não soube o que responder a um miúdo de 15 ou 16 anos que vendia T-shirts e pagava o salário mínimo às costureiras. As “mulheres deste tipo” não sei bem quem são; o meu leque de amizades e familiares é mais variado e menos impoluto. Mas, no caso, Varela referia-se ao tipo de mulher que ameaça a reputação de Cristiano Ronaldo.

Há mulheres tão puras e virtuosas que não se misturam com a escória. A violência sexual pode, asseguram-nos, acontecer a qualquer mulher, mas…umas põem-se mais a jeito do que outras. A violação é um crime hediondo, mas há tipas que estão mesmo a pedi-las. E, evidentemente, mulher séria, como elas, jamais venderia a dignidade, porque, se vendesse, perderia automaticamente, o direito a queixar-se. Então, não sabemos todos, como se comporta uma verdadeira vítima de violação? Deve ser formidável ser dotado de tanta sapiência e rectidão! E cansativo, também.

Do alto das suas cátedras amarelecidas e podres, muitos estudam o povo, mas não lhe pertencem. Limitam-se a debitar sentenças ocas embaladas numa presunção de intelectualidade, mas sem se misturarem muito, porque o Povo é interessante como objecto de estudo, em abstracto; mas o povo, esse que vive, ri e chora, é peganhento, cheira mal e é pouco educado.  Talvez por isso, Raquel Varela tenha também, em tempos, abominado o tipo de “fato de alfaiate de segunda, morador suburbano” de Pedro Passos Coelho.

O feminismo de Raquel Varela é polido e erudito. O meu é mais do tipo, nem todos os homens são violadores em potência, nem todas as mulheres são santas. Mas, isso não se mede pela profissão, fama ou estatuto social. E, tal como muitos portugueses, espero que Cristiano Ronaldo esteja inocente ou que seja exemplarmente punido, se for culpado, independentemente do tipo da tipa.