terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A síndrome de Calimero...

…mas ao contrário.

Acontece quando somos acometidos por uma empatia e compaixão súbitas por alguém que estávamos prestes e capazes de matar a sangue frio, porque, entretanto, outro alguém atacou (ainda mais) violentamente o alvo do nosso descontentamento-barra-ódio. Aí, todo o nosso nojo se esfuma e passamos a acarinhar, às vezes, com devoção, aquele que, ainda agora, era a viva encarnação de todos os pecados, os nossos e os dos outros.

Rui Rio era, ontem (vá, anteontem…), um líder frouxo, sem carisma, a sorte grande que tinha calhado a António Costa, depois de este já ter feito um bingo, geringonçado, com o PCP e o BE. O homem suportou todos os enxovalhos que os trocadilhos com o seu apelido permitiam, com graça, sem graça, com água ou a seco. A contestação interna era tanta e tão corpanzuda, tão cabeluda, que Luís Montenegro se sentiu animado a vestir-se de capa e espada para salvar o PSD; não cheguei a perceber se Montenegro quis salvar o dito de se tornar num partido com pior resultado nas eleições, ou num partido com rótulo de direita(?!), mas talvez isso não venha ao caso. E o caso é que Montenegro armou-se cavaleiro, deu o corpo às balas, desafiou Rio a não ter medo e, provavelmente, ficou à espera que tal bastasse – tal era a enormidade do repúdio – para ser carregado em braços, como o herói que se propunha. O risco afigurava-se menor do que o descaramento. Afinal, as malfadas sondagens caem (ou caíam) a pique e, nessa vertiginosa e humilhante derrocada, talvez se perdesse, além do que de dignidade resta, muitos, imensos, postos de trabalho. Ninguém quer aumentar a taxa de desemprego; há quem não tenha (in)competências para muito mais…

É possível, no entanto, que o que parecia uma aposta ganha venha a trazer amarguras, várias e de vários tipos. Talvez nada tenha a ver com o afecto que o Presidente Marcelo emprestou à situação, ora com Rio, ora com Montenegro, mas, essa massa de críticos que se opunham a um e com que o outro, provavelmente, contava é capaz de se esvaziar, ruinosamente, ruidosamente, como um balão furado, a acreditar nas últimas notícias. Ou, então, terá sido apenas Rui Rio a encontrar-se, finalmente, acicatado pelas circunstâncias, decidido a não fazer valer a vontade dos que o dão como acabado.  A ver vamos. O ritmo a que se vive a política, há muito que nos escapou, ganhou vida própria e move-se ao sabor do momento, fugaz como um sopro arredio e endiabrado.

Razão tinha Jerónimo de Sousa. Nada de contar com o ovo (mesmo um com muitos likes...) no dito cujo da galinha, ou lá como era...