Li que
Gwyneth Paltrow teria posto à venda velas com cheiro a vagina. À sua, mais
concretamente. Espicaçada pela curiosidade, fui procurar fontes mais ou menos
fiáveis.
Descobri
que, afinal, só o nome da coisa é bizarro. Da vela, quero dizer. E da ideia,
talvez. Parece que, enquanto Gwyneth procurava uma fragância mais ou menos
sofisticada, em parceria com o perfumista Douglas Little, ter-se-á deixado
entusiasmar (ou não) por um aroma em particular e, num momento de (des)inspiração, deixou escapar um "Uuh... isto cheira à minha vagina!". Qualquer coisa assim. Sendo que a interjeição, pelo menos, se presta a várias interpretações.
O certo é que o nome ficou no ouvido, ou lá onde foi, e como há aqueles
a quem basta querer e poder – parece, mas não é bem a mesma coisa, digam o que
disserem – as velas começaram a ser vendidas sob a égide “This Smells Like
My Vagina”…só que não.
Lembrei-me
disto a propósito das vigas de Cabrita Reis (a minha mente é capaz de associações
estranhíssimas). O artista plástico e pintor português, como diz a
Wikipédia, escreveu um artigo no jornal PÚBLICO a defender a sua obra mestra, A
Linha do Mar. Diz o autor, aquele conjunto de vigas brancas frente ao mar
de Leça da Palmeira – talvez menos serenamente do que desejaria o
próprio – é uma obra de arte, porque sim; porque ele assim o afirma. Mais
exactamente, tem de o fazer, deve fazê-lo e pode fazê-lo. Sem
mais. Mas, há mais, afinal. O artigo (além de um insulto aos que pagam impostos, como eu, mas nisso o senhor não está sozinho e, convenhamos, há piores, embora não sirva de consolo...) é um enjoativo exercício de vaidade em causa e cousa própria, e um atestado de ignorância, no que a ignorância tem de mais
ignóbil, aos que ousam desgostar daquilo . Como se atrevem?
Confesso
que só vi a escultura em fotografias de jornais e revistas. Ainda não tive a
oportunidade de experienciar, ao vivo, em frente ao mar para lá das majestosas
vigas – ao que parece, exemplo maior de formidável abstracionismo, ao alcance do entendimento
de poucos –, o fervor de me deixar arrebatar pelo génio de Cabrita Reis.
Pertenço àquele grupo de pessoas que aprecia mais a arte dos que foram
tocados por deus, no isolamento melancólico dos seus ateliers, o que
Cabrita Reis lamenta, mas sempre vai dizendo que já não é bem assim. O que
me leva a desconfiar que poderei chorar ante a visão de A Linha do Mar,
mas, possivelmente, por motivos diferentes dos que me levaram às lágrimas sob o
tecto da Capela Sistina. Enfim, não saberei assim tanto. Quem sabe (e viu?) diz que aquilo é de uma beleza sublime, uma obra-prima da arte contemporânea, obviamente
parida (mas não de forma suada, a não ser que o autor tenha transportado as
vigas em ombros) por uma mente tão brilhante quanto incompreendida, e é
absolutamente lamentável que haja tanto populacho parolo incapaz de prestar o
devido culto ao mestre, tanta gente absolutamente inapta para perceber a
dinâmica observador-envolvente essencial para sucumbir ao deleite daquela manifestação artística.
De modo
que, voltamos aos que podem, porque podem. Vender velas, ou fazer-se pagar (bem)
por uma arte, para lá da arte propriamente dita.
E fico-me por aqui. Para disparate, bem bastam as vigas e as velas. Não necessariamente por esta ordem.