quinta-feira, 2 de abril de 2020

"Nós, os velhos"

Não sei bem se são as crises que fazem os líderes, como profetizam alguns. Mas, seguramente, são as crises que nos despem e nos revelam. E, nesse sentido, farão eclodir esse “nós” que há em nós; eventualmente, esse carácter de excepção, privilégio apenas dos melhores entre os melhores.
Nos últimos dias - semanas que mais parecem meses, que se arrastam ao dissabor dos números: de infectados, de mortos, dos poucos recuperados - tenho prestado (mais) atenção à forma como esperneiam os vermes. Não deixarei de espantar-me, nunca, com o culto que se presta à cobardia mais abjecta. Foi, por isso, reparador ouvir a entrevista do General Ramalho Eanes, ex-Presidente da nossa República Portuguesa, ontem à noite. No mínimo, reparador, sim. E já é bastante, neste tempo que se nos escapa por entre os dedos, por entre o choque e os estados de alma.

"Nós os velhos", nós os novos, nós os de todas as idades, de todas as cores, de todos os credos, de credo nenhum, agradecemos a lucidez, o sentido de Estado e a tal coragem que distingue Uns dos outros; dos simplesmente imbecis, sem distinção de género, sobretudo, já que cabem todos no mesmo.