segunda-feira, 11 de maio de 2020

Das mortes insuportáveis e das notícias a condizer.


Há-de ser sempre incompreensível para a generalidade das pessoas os motivos que levam um pai ou uma mãe a cometer tal acto de violência sobre um filho. Não raras vezes, pelo contrário, há vizinhos e amigos a garantir a pacatez, a afabilidade, a normalidade, enfim, dos supostos agressores. Percebe-se, por isso, a curiosidade – algo mórbida, eventualmente – que possa suscitar a notícia (infelizmente, mais uma, até à próxima) da morte de outra menina, ao que parece, às mãos do pai. O que se dispensava era a pornografia jornalística em torno do tema, com directos em cima de directos para repetir ad nauseam os contornos da tragédia, tentativas de esclarecimento sobre o exacto local da morada dos suspeitos, conferências de imprensa com direito a perguntas que nada de importante visam aclarar para a opinião pública, apenas servir o espectáculo mediático e saciar a sede dos que gozam com a degradação da condição humana; em ambos os casos, uma indecorosa usurpação e manipulação do direito a informar e a ser informado.