Há-de ser sempre incompreensível para a
generalidade das pessoas os motivos que levam um pai ou uma mãe a cometer tal
acto de violência sobre um filho. Não raras vezes, pelo contrário, há vizinhos
e amigos a garantir a pacatez, a afabilidade, a normalidade, enfim, dos
supostos agressores. Percebe-se, por isso, a curiosidade – algo mórbida,
eventualmente – que possa suscitar a notícia (infelizmente, mais uma, até à
próxima) da morte de outra menina, ao que parece, às mãos do pai. O que se
dispensava era a pornografia jornalística em torno do tema, com directos em
cima de directos para repetir ad nauseam os contornos da tragédia, tentativas
de esclarecimento sobre o exacto local da morada dos suspeitos, conferências de
imprensa com direito a perguntas que nada de importante visam aclarar para a
opinião pública, apenas servir o espectáculo mediático e saciar a sede dos que
gozam com a degradação da condição humana; em ambos os casos, uma indecorosa usurpação
e manipulação do direito a informar e a ser informado.