terça-feira, 16 de junho de 2020

Ibrahim


A fotografia é de Alfredo Cunha. Hesito em colocá-la ali. É possível que venha a removê-la, deixando-a apenas no registo narrado de Luís Pedro Nunes. É avassaladora e não pretendo abusá-la. Mas, na história e no rosto de Ibrahim, há qualquer coisa que também a mim me assombra. Não sei se do romanesco aloucado dos dias, do asco que ainda me provoca a sobranceria abjecta, criminosa, do joelho que asfixiou Floyd, da imbecilidade que é combater a violência com violência, a brutalidade com brutalidade, a barbárie com barbárie. Ou, se é da firmeza imaculada dessa dignidade contada em comoção crua, falsamente bruta, que transcende a beleza da fotografia porque forjada a cinzel, com elevada minúcia, na vontade de alguns, poucos, a quem nem a escravatura é capaz de corromper. 

Pensamos ser livres. Sabemos lá o que é a liberdade.