terça-feira, 16 de junho de 2020

Do Novo Banco, com despudor.

O caso Novo Banco é um escândalo, é um escândalo, é um escândalo. Qualquer pessoa com o mínimo de decência e vergonha devia recusar-se a presidir aquilo; àquilo. Não podendo, devia poupar-se e poupar-nos a leve sorriso que fosse - nem na forma tentada - de cada vez que dá entrevistas a propósito do tema e dos milhões que sobejam para rapar do fundo do tacho, quanto mais permitir-se reclamar prémios de desempenho ou coisa que descaradamente lhes valha, seja neste ano ou nos próximos.

Já sei. É a economia, estúpida. A banca não pode sofrer convulsões e os bancos não podem ruir. A falência é coisa de gente pobre e isenta da bonomia do Estado, principalmente, no que toca aos grandes interesses diz que do País. A pandemia pode atirar para o desemprego milhares de portugueses, engordar as filas de ajuda alimentar, estraçalhar a vida de muitos daqueles que, mais do que nunca terem recebido qualquer ajuda estatal, nunca se imaginaram à mercê da sua caridade, mas, o hipoteticamente impoluto contrato que ia deixar o BES, ou parte dele, novo e limpo é inviolável, inatacável, para cumprir à letra, ao cêntimo, com auditorias de faz-de-conta para português ver, e merece toda a nossa resignada candura. Hoje e sempre. Ámen.

Com sorte - vamos dizer assim - ainda alguém com memória disto há-de sobreviver tempo suficiente para assistir ao julgamento dos responsáveis. Os políticos e os outros. Sobretudo, os outros. 

Menos mal que, em breve, chegarão (não é?) os milhões de Bruxelas para despejar sobre os virtuosos do costume. De helicóptero. Num ápice, tudo será resolvido, sanado, esquecido, e os resmungos confinados, como merecem, às filas de espera às portas dos serviços públicos que se aguentarem até ficar tudo na mesma. Ou tudo nos mesmos. Ninguém nota.