O
caso Novo Banco é um escândalo, é um escândalo, é um escândalo. Qualquer pessoa
com o mínimo de decência e vergonha devia recusar-se a presidir aquilo; àquilo.
Não podendo, devia poupar-se e poupar-nos a leve sorriso que fosse - nem na
forma tentada - de cada vez que dá entrevistas a propósito do tema e dos
milhões que sobejam para rapar do fundo do tacho, quanto mais permitir-se
reclamar prémios de desempenho ou coisa que descaradamente lhes valha, seja
neste ano ou nos próximos.
Já
sei. É a economia, estúpida. A banca não pode sofrer convulsões e
os bancos não podem ruir. A falência é coisa de gente pobre e isenta da bonomia do Estado, principalmente, no que toca aos grandes interesses diz que do País. A pandemia pode atirar para o
desemprego milhares de portugueses, engordar as filas de ajuda alimentar, estraçalhar
a vida de muitos daqueles que, mais do que nunca terem recebido qualquer ajuda estatal,
nunca se imaginaram à mercê da sua caridade, mas, o hipoteticamente
impoluto contrato que ia deixar o BES, ou parte dele, novo e limpo é inviolável,
inatacável, para cumprir à letra, ao cêntimo, com auditorias de
faz-de-conta para português ver, e merece toda a nossa resignada
candura. Hoje e sempre. Ámen.
Com
sorte - vamos dizer assim - ainda alguém com memória disto há-de sobreviver tempo
suficiente para assistir ao julgamento dos responsáveis. Os políticos e os
outros. Sobretudo, os outros.
Menos mal que, em breve, chegarão (não é?) os milhões de Bruxelas para despejar sobre os virtuosos do costume. De helicóptero. Num ápice, tudo será resolvido, sanado, esquecido, e os resmungos confinados, como merecem, às filas de espera às portas dos serviços públicos que se aguentarem até ficar tudo na mesma. Ou tudo nos mesmos. Ninguém nota.