segunda-feira, 20 de julho de 2020

Trump à beira de um ataque de nervos

Donald Trump encomendou uma entrevista à FoxNews, mas alguém deve ter-se esquecido de entregar o guião e a lista de instruções. Em vez de um emplastro pró-Trump, o pacote trazia um jornalista assertivo e incómodo, apostado em apurar a verdade possível dos factos e, como é sobejamente (e sabujamente) conhecido, a verdade está para o actual presidente dos EUA como o Natal para uma certa parte da Humanidade: é quando o homem quiser; e o homem quere-a à sua gananciosa medida.

Trump, que trata todos os que se lhe opõem com a classe que se lhe conhece  um senhor, desde que sentado à esquerda do filho que a sua imagem pariu, o comparsa Jair, de narizinho limpo às costas da mão –, portou-se como o bruto que é. Elogiou-se, agastou-se, irritou-se. Quem diria. E, como a entrevista não lhe correu de feição, foi lamber as feridas para o Twitter, where else?, impor a verdade manhosa que lhe dita o ego e insultar os seus adversários, o corrupto Biden e o louco Bernie, um exemplo de lisura e sentido de estado a que (ainda nem todos) nos habituámos.

A pandemia deixou o mundo à beira de um ataque de nervos e Donald Trump à beira de uma apoplexia aguda. O vírus, que se entretém a rebaptizar para delícia dos pândegos, espatifou-lhe a economia e os planos desesperados de retoma, o seu maior trunfo eleitoral a par dos espectáculos de stand up comedy a que chama comícios, onde ensaia, magistralmente, o bobo da sua deleitada corte. Se nos abstrairmos da figura do presidente, o homem chega – salvo-seja – a ter uma certa graça. E com Joe Biden à frente nas sondagens, está montado um novo circo assente num barril de pólvora.

Com ou sem pandemia, Biden, convenhamos, é um candidato a presidente tão entusiasmante como uma alforreca. Esvaziada. Daquelas que já nem urticária provoca. Mas parece ser o único caminho de salvação para a América e arredores. Não imagino o que mais quatro anos de Trump poderão (não, não, não!) fazer à democracia, não só americana. O que acontecer nos Estados-Unidos, não ficará nos Estados-Unidos. Espalhar-se-á como veneno por uma Europa (e não só) débil, também ela, com consequências imprevisíveis, em tempos mais do que incertos. A tempestade mais que perfeita.


Bem sei. Por cá, muita coisa merece, igualmente, a minha devoção. Mas, de momento, parece que a Cristina voltou para a TVI e o Jorge Jesus, para o Benfica. De modo que, nos próximos dias, o fim mais do que iminente dos debates quinzenais no Parlamento, o pandemónio do regresso às aulas, e a potência da bazuca com que Bruxelas nos há-de armar, não deve encher notícias. Ainda virei a tempo.