Como não se esperava até à ideia peregrina de Rio, terminam os debates quinzenais com a presença do primeiro-ministro no Parlamento. A sugestão de Rui Rio – e, por arrasto, manso, do PSD – foi aceite pelo PS, imagino que, com prazer, imenso alívio e, eventualmente, uma nota de agradecimento que não pôde, ainda, ser emitida. Por recato. Talvez chegue com um cargo menos fastidioso, por medida. Como a promoção de Portas a vice-primeiro-ministro, que foi quem se lembrou (ainda não nessa qualidade) primeiramente das tais invenções estúpidas, corria o tempo de Sócrates. Ele há coisas, como diriam outros…
Não sei se Rui Rio conta com a chegada
ao cargo de primeiro-ministro um dia qualquer sem nevoeiro e pretendeu não deixar para essa altura o
que podia fazer hoje. A disciplina alemã a plantar frutos. Certo é que Rio
nunca escondeu a maçada que é o não-trabalho parlamentar, de modo que, assunto
arrumado. Deixem o primeiro-ministro trabalhar. Calha bem, porque vão chegar (não vão?) os tais milhões de Bruxelas e convém, desta vez, aplicar bem o dinheiro, isto
é (não é?) tornar Portugal mais rico, não apenas cuidar do enriquecimento dos do
costume.
Não sei se – a juntar à supervisão dos
frugais – não devíamos criar assim uma espécie de comissão extra do povo, que
se encarregasse de conter excessos, para lá do vinho e das mulheres. Parece que
é também para isso que escolhemos os nossos representantes, mas não se tem
notado muito. Precisamos de pares acção-reacção mais anónimos, mais enérgicos,
mais eficazes. Dizem que os temos como os merecemos, os representantes, mas não
creio. Temos gente bem melhor do que a presumida (duplamente literal) elite que
é suposto governar-nos. A não ser assim, há muito que Portugal teria ruído como
um castelo de cartas. Como outros impérios. Como se tem visto. E não se via antes, de modo que, haja alguma esperança.
Li que António Costa terá dito que "As
novas gerações em Portugal nunca nos perdoariam se desperdiçássemos a
oportunidade que agora temos à nossa frente" e ouvi, de raspão, o
Presidente da República referir-se ao "envelope" que caberá a Portugal em
ajuda comunitária como a nossa maior oportunidade, ou qualquer coisa assim.
Se não exactamente assim, era este o sentido. Queria muito acreditar nos dois,
mas, para dançar este tango, serão precisos mais e nem mesmo aqueles são
bailarinos exímios para a coreografia que nos (des)espera.
Entretanto, ganhou forma um “supertravão
de emergência” que há-de permitir a um país questionar outro país
sobre a forma como anda a gastar o dinheiro do plano que nos há-de salvar a
todos. A uns mais do que a outros. “Em caso de divergência com a Comissão -
que é quem avalia as reformas e investimento e aprova desembolso de verbas
- "o assunto pode ser submetido ao Conselho Europeu" pelo
país queixoso e a Comissão fica impedida de aprovar pagamentos "até
que o Conselho Europeu seguinte tenha discutido exaustivamente o
assunto". Um processo que não pode demorar mais do que três meses”.
Tendo em conta quem se sabe ser os uns e os outros, a coisa
não se avizinha nada fácil.
E, por falar em coisas importantes, parece que chegou outro pacote de ajuda à economia portuguesa. Jorge Jesus aterrou em Tires, num voo privado, na companhia de Luís Filipe Vieira que o foi buscar com o mesmo alarido com que o despachou há cinco anos, ou lá o que é, que percebo pouco de futebol. Ainda menos do que percebo do resto. E, mesmo assim, sou menina para desconfiar do que diriam os comentadeiros desportivos deste país, nos seus programas dia sim e no outro também, se fosse um treinador - português ou não - a fazer ao Benfica o que Jesus fez ao Flamengo.