Ontem, a SIC Notícias promoveu um debate entre Daniel Oliveira e Sérgio Sousa Pinto sobre a desgraçada disciplina de
Educação para a Cidadania. Daniel Oliveira deve dispensar apresentações; Sérgio
Sousa Pinto, não sei, mas, para os mais distraídos, como eu, é, pelo menos, o deputado socialista que assinou o manifesto
contra a obrigatoriedade da frequência das aulas da dita. Já o debate foi
bastante educativo; teve cidadania, e falta dela também.
Sérgio Sousa Pinto começou,
aparentemente mais para o cínico do que para o calmo, e já espumava ainda a
coisa ia no adro. A leitura de todos os géneros de tópicos de género
associados à lista do tal “Guião de Educação para o 2º ciclo” esgotou-o de vez,
de modo que, o único troglodita de esquerda presente, que Sousa Pinto trouxe à conversa
duas ou três vezes, era mesmo o próprio. Se dúvidas houvesse sobre o que, na realidade
move os indignados contra a suposta tentativa do Estado de promover lavagens cerebrais nas
nossas crianças, aí esteve Sousa Pinto, esmurrando-as uma a uma. Ou isso, ou alguém
cometeu um erro de casting e enganaram-se na escolha.
Posso não concordar totalmente com
Daniel Oliveira (por acaso, acho que, no caso, concordei com tudo o que à
Cidadania dizia respeito), mas, não há dúvida de que esteve francamente bem.
Também não era preciso muito; era só ter preparado o debate com algum cuidado e
defender os seus argumentos com inteligência. Tudo o que parece ter faltado ao
outro senhor.
Ainda sobre o tema, vale a pena ler dois
artigos que o PÚBLICO publicou por estes dias: primeiro, o de António Barreto –
que leio, normalmente, com gosto, o que, aqui, não foi o caso; não imagino o que lhe
terá dado, mas, à laia de penitência (claro que não), escreveu este outro,
sobre justiça e corrupção – e, mais recentemente, o de Francisco Bethencourt.
De modo que, deixem, realmente, as crianças em paz. Na
paz do desassossego de aprender, de descobrir, na paz de errar, tropeçar e
crescer. Os pais de Famalicão e os seus apóstolos não concordam com o que se diz,
na escola, sobre igualdades e desigualdades, sexualidade e outros demónios? Têm
o direito de discuti-lo à mesa de jantar. Dava um bom trabalho de compensação das faltas que os miúdos deram, passavam de ano com a distinção que queriam os progenitores e teriam contribuído para um debate a sério. E sério. Devem ter influência suficiente para rebater, se não com eficácia, pelo menos, com estrondo, as miseráveis seis horas anuais, ou lá o que é, mas não é muito mais, da carga horária destinada à cidadania escolar. Até podem jogar a cartada do “é assim,
porque eu digo e eu é que mando”, como faço, algumas vezes, com o meu filho, ao
seu enésimo “porque-eu-que-não-posso” e, agora, acrescente-se ali o que se
quiser, e eu já de paciência esgotada. Sousa Pinto esteve quase. Foi por um
triz, como se diz.