segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Ainda a Cidadania

 

Ontem, a SIC Notícias promoveu um debate entre Daniel Oliveira e Sérgio Sousa Pinto sobre a desgraçada disciplina de Educação para a Cidadania. Daniel Oliveira deve dispensar apresentações; Sérgio Sousa Pinto, não sei, mas, para os mais distraídos, como eu, é, pelo menos, o deputado socialista que assinou o manifesto contra a obrigatoriedade da frequência das aulas da dita. Já o debate foi bastante educativo; teve cidadania, e falta dela também.

Sérgio Sousa Pinto começou, aparentemente mais para o cínico do que para o calmo, e já espumava ainda a coisa ia no adro. A leitura de todos os géneros de tópicos de género associados à lista do tal “Guião de Educação para o 2º ciclo” esgotou-o de vez, de modo que, o único troglodita de esquerda presente, que Sousa Pinto trouxe à conversa duas ou três vezes, era mesmo o próprio. Se dúvidas houvesse sobre o que, na realidade move os indignados contra a suposta tentativa do Estado de promover lavagens cerebrais nas nossas crianças, aí esteve Sousa Pinto, esmurrando-as uma a uma. Ou isso, ou alguém cometeu um erro de casting e enganaram-se na escolha.

Posso não concordar totalmente com Daniel Oliveira (por acaso, acho que, no caso, concordei com tudo o que à Cidadania dizia respeito), mas, não há dúvida de que esteve francamente bem. Também não era preciso muito; era só ter preparado o debate com algum cuidado e defender os seus argumentos com inteligência. Tudo o que parece ter faltado ao outro senhor.

Ainda sobre o tema, vale a pena ler dois artigos que o PÚBLICO publicou por estes dias: primeiro, o de António Barreto – que leio, normalmente, com gosto, o que, aqui, não foi o caso; não imagino o que lhe terá dado, mas, à laia de penitência (claro que não), escreveu este outro, sobre justiça e corrupção – e, mais recentemente, o de Francisco Bethencourt.

De modo que, deixem, realmente, as crianças em paz. Na paz do desassossego de aprender, de descobrir, na paz de errar, tropeçar e crescer. Os pais de Famalicão e os seus apóstolos não concordam com o que se diz, na escola, sobre igualdades e desigualdades, sexualidade e outros demónios? Têm o direito de discuti-lo à mesa de jantar. Dava um bom trabalho de compensação das faltas que os miúdos deram, passavam de ano com a distinção que queriam os progenitores e teriam contribuído para um debate a sério. E sério. Devem ter influência suficiente para rebater, se não com eficácia, pelo menos, com estrondo, as miseráveis seis horas anuais, ou lá o que é, mas não é muito mais, da carga horária destinada à cidadania escolar. Até podem jogar a cartada do “é assim, porque eu digo e eu é que mando”, como faço, algumas vezes, com o meu filho, ao seu enésimo “porque-eu-que-não-posso” e, agora, acrescente-se ali o que se quiser, e eu já de paciência esgotada. Sousa Pinto esteve quase. Foi por um triz, como se diz.