sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Terra queimada

 



É exactamente no que se tornou qualquer tentativa de discussão  social, política, não interessa nada, apenas uma estratégia de terra queimada. Meia dúzia de “pensadores” distribuídos pelas colunas de jornais e/ou por blogues de referência e afins entretêm-se a atirar lama uns outros. Um texto, uma linha, uma provocação, uma troca de bocas e uma matilha sebosa de comentadores que – com meia dúzia de honrosas excepções, concordando-se ou não com o que defendem (se é que ainda está permitido apreciar mesmo aqueles de quem se discorda, cretinos aparte) – se atiram, como dementes, ao osso largado pelo dono. Parece que não pode ser de outra maneira. E o logro goza do mesmo (ou maior) estatuto dos factos provados. Já ninguém quer saber de factos. Os que se atrevem a exibi-los, mesmo com sobriedade e paciência, são prontamente esmagados por batalhões em fúria.   

Os mesmos que criticam copiosamente os que estão "cheios" de certezas, incham ruidosamente em convicções próprias, enquanto troçam dos sensatos, porque, como se sabe, a sensatez, essa sim, é a maior prova de sobranceria. Ou de idiotice. Insuportável em ambas as formas. E assim se chega, salvo-seja, à comparação do que é incomparável; ou ao admirável mundo d'o-meu-traste-é-(bem)melhor-que-o-teu. Isto, em podendo comparar os trastes, porque, sim, sem pingo de ironia agora, até os mais imundos trastes podem ser incomparáveis. 

Suponho que faça tudo parte do mesmo circo. O objectivo não é encontrar pontes e pontos de entendimento, é exultar fantasmas e soltar os demónios que, por decência, jaziam no fundo fedorento dos baús até lhes terem concedido, outra vez, ordem de soltura. 

Porém, tenho aprendido a distinguir cada vez melhor entre os que apenas se divertem a atiçar o fogo e os que babam vendo a terra a arder.