Donald Trump ensaiou o maior logro da História
contemporânea. Após o desastre que foi aquele não-debate presidencial, Trump precisava
de uma manobra de diversão que o fizesse ressuscitar da toca em que se enfiara
depois de instigar os seus cães de caça contra todos os que vierem a ousar exercer
o seu direito de voto contra si e depois de lhes ter ordenado que se mantenham
a postos para a rebelião armada que o próprio alimenta todos os dias desde que
foi eleito. Para o efeito bombástico pretendido – e duramente criticado pela
miserável gestão da pandemia – restava-lhe um milagre de falsete; igual a si
próprio, portanto. Assim, fingiu ter sido atacado pela doença do século e
fingiu ter-se curado por obra e graça da ciência que despreza, com a
cumplicidade de uma equipa médica sequestrada pela fanfarronice daninha do
presidente. Curadíssimo da maleita que nunca teve, promete aos enfermos que
hão-de vir remédio mais consensual do que luzes tremendas e chás de lixívia e
rejeita categoricamente debates virtuais com o homem a quem odeia quase tanto
como a Obama. Percebe-se. Se Biden recusar, pode acusá-lo de ser um cobarde. Se
Biden aceitar, lamentará não poder infectá-lo, mas terá conseguido mais um espectáculo
à sua imagem. É tudo quanto lhe interessa: safar-se a qualquer a qualquer
custo, mesmo que, para isso, queime tudo à sua passagem. Não é a América que
ele quer grande outra vez: é o seu império, o seu mundo, os seus bonecos de
palha, encerados e reluzentes como troféus.
Esta é a minha versão dos factos.
Alternativa, como mandam as novas regras. É insano, bem sei. Mas estamos em
2020, o ano de todas as pestilências...