quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Sobre vírus e sobre curas

 

Donald Trump ensaiou o maior logro da História contemporânea. Após o desastre que foi aquele não-debate presidencial, Trump precisava de uma manobra de diversão que o fizesse ressuscitar da toca em que se enfiara depois de instigar os seus cães de caça contra todos os que vierem a ousar exercer o seu direito de voto contra si e depois de lhes ter ordenado que se mantenham a postos para a rebelião armada que o próprio alimenta todos os dias desde que foi eleito. Para o efeito bombástico pretendido – e duramente criticado pela miserável gestão da pandemia – restava-lhe um milagre de falsete; igual a si próprio, portanto. Assim, fingiu ter sido atacado pela doença do século e fingiu ter-se curado por obra e graça da ciência que despreza, com a cumplicidade de uma equipa médica sequestrada pela fanfarronice daninha do presidente. Curadíssimo da maleita que nunca teve, promete aos enfermos que hão-de vir remédio mais consensual do que luzes tremendas e chás de lixívia e rejeita categoricamente debates virtuais com o homem a quem odeia quase tanto como a Obama. Percebe-se. Se Biden recusar, pode acusá-lo de ser um cobarde. Se Biden aceitar, lamentará não poder infectá-lo, mas terá conseguido mais um espectáculo à sua imagem. É tudo quanto lhe interessa: safar-se a qualquer a qualquer custo, mesmo que, para isso, queime tudo à sua passagem. Não é a América que ele quer grande outra vez: é o seu império, o seu mundo, os seus bonecos de palha, encerados e reluzentes como troféus.

Esta é a minha versão dos factos. Alternativa, como mandam as novas regras. É insano, bem sei. Mas estamos em 2020, o ano de todas as pestilências...