quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Mimar o morto

André Ventura resolveu aprimorar o seu trump style de trazer por casa. Ou melhor, de trazer para a rua. Elevou a fasquia e passou ao insulto pessoal mais reles, aquele que faz as delícias dos imbecis. A "contrabandista", o "avô bêbado", o "fantasma", a dos "lábios vermelhos" que "fisicamente" não está muito bem – a mais que esgotada piada sexista, evidentemente – e o operário beto: piada sexista por piada sexista, desconfio que a última, dirigida ao João Ferreira, tenha uma ponta de inveja. Grande ou pequena, tanto faz.

Até nisto somos um país atrasado. O Trump em agonia nos EUA, a esvaziar-se num chinfrim agudo como um rato pestilento, gulosamente engordado pelos seus, preso na armadilha que o próprio criou, e o nosso protótipo de vigarista armado em estadista a dar os primeiros passos na cretinice de sarjeta. Daquela mesmo imunda. Lindo. Que é como quem diz, deplorável. 

Já sei o que dizem: deplorável foi o golpe de morte que Hillary Clinton desferiu sobre si mesma enquanto candidata a presidente dos EUA. Mas, os deploráveis não deixam, por isso, de ser deploráveis. Também sei que há sondagens que colocam o Ventura em segundo lugar nas intenções de voto dos portugueses. A concretizar-se, será só mais uma acha para a fogueira onde acabaremos todos por arder. Talvez se salvem os portugueses de bem, ou lá o que é. Ou, como se tem visto com os acólitos de Trump, talvez esses sejam os primeiros a abandonar o navio. Pior que um cretino, só um cretino cobarde. E raramente a imitação supera o original. De modo que, ouvir o líder do Chega a ensaiar uma stand up comedy da politiquice de esgoto, cheirou duplamente mal: pela, isso, em si e pela falta de jeito para chafurdar na dita: parecia uma fraude da própria fraude...

E "o morto" é em sentido figurado, para os mais inocentes.