Não é que eu deteste o Verão. Detesto o calor de Verão, o Inferno dos incêndios de Verão, a luz escorrente e baça de Verão, as cores mortiças e o ar obeso que me sufoca como uma mortalha de aço. Mas gosto de algumas noites de Verão. Do fim de praia, da areia morna quando o Sol, finalmente, sossega, e do gin tónico gelado com uma rodela de limão. Demasiado vulgar, talvez, mas o meu Verão é melhor assim.
Também
gosto do tempo de Verão. O do relógio. Uma transição electrónica entre dois
níveis de energia num átomo de césio-133, nove milhares de milhões cento e
noventa e dois milhões seiscentos e trinta e um milhares e setecentas e setenta
oscilações completas num segundo, todos os segundos de um dia, qualquer dia de
qualquer estação, mesmo que os segundos me pareçam sempre mais lentos no tempo que dura o Verão, suponho que como deva ser, para poder desperdiçá-lo sem remorso.
De
todas as silly coisas que a desdita season tem, a mais esdrúxula ouvi-a
ontem: Pedro Abrunhosa cantou “Vladimir Putin, go fuck yourself”, num
concerto em Águeda, e a embaixada russa em Portugal emitiu um comunicado para
dizer da indignação russa e da indignidade de um homem da cultura, cujas
palavras “foram (ali) ouvidas” e “respectivas conclusões serão tiradas”.