A
sensacional mudança de Sebastião Bugalho-comentador para Sebastião Bugalho-candidato-(a)-político
(mesmo que independente, como o próprio gosta de deixar claro), operou uma outra mudança, não sei se apenas na
forma como passei a olhá-lo. De repente, o jovem talento da comunicação –
arrogante, concedo, porque há sempre uma certa dose de arrogância na
consciência dos dotes próprios, que não será pior do que a exibição desastrada
e descarada daquela modéstia artificial e sonsa a que se prestam outros, mas
adiante – medrou e transfigurou-se. E, agora, de cada vez que o ouço, vem-me à
memória aquele magnífico clássico. Excepto que a decadência do retrato não
ficou escondida no sótão, pelo contrário, é ostensiva e cultivada. A corrupção
voluptuosa da inocência, a obsessão pela busca insaciável do prazer de ser par e
ímpar, um igual e, ainda assim, único, numa embriaguez indulgente de si mesmo.
Marta Temido chamou-lhe imaturo e feriu-lhe de morte o orgulho erecto.