Aqui,
a Terra ainda não parou de rugir. O vento ainda uiva por entre as frinchas da
chuva, e sou capaz de jurar que as paredes continuam a ranger em agonia.
Passei
há pouco pelas ruas de árvores mutiladas. São dezenas. As que se mantêm de pé
estão despidas e baças; os ramos que sobram, como esqueletos agitando-se
freneticamente contra um céu de fim-de-mundo. As que jazem ainda por recolher
parecem ter sido arrancadas à mão. É desolador. O vizinho do quarto andar
lamenta-se com espanto, mas se eram árvores de cem anos!, dizem que foi da
direcção do vento... Talvez. A quem olha agora a aparente superficialidade
e fragilidade daquelas raízes desfiadas parece mais espantoso terem-se mantido
de pé até há dois dias. A mim parece-me.
Há sempre uma certa solenidade na revelação furiosa da Natureza, no silêncio quieto que sobra
sobre os escombros.