Anátema foi o primeiro livro que li de
Camilo Castelo Branco, muito antes do Amor de Perdição dos
programas escolares. Os meus pais tinham aquela colecção inteira do Círculo de
Leitores, de lombada castanha e letras douradas; a de Júlio Dinis era verde,
como a de Eça, com um decorativo diferente.
Deixei-me
seduzir pela palavra no título. Anátema. Fui ao dicionário. Excomunhão,
maldição, vingança. Antes tudo isso do que uma tarde ao sol agonizante de
Agosto, que eu sempre suportei melhor mergulhada em livros. Sou de Novembro, do
frio cinzento, do sol que aquece com o aveludado de uma carícia. Do tempo em que
as férias de Verão se eternizavam sem piedade. Não fossem as estantes de livros
que sempre encheram a casa dos meus pais – minha, metade da minha vida – e
morreria todos os Agostos.
Guardo
na boca as palavras de que gosto. Mastigo-as até que se dissolvam no fundo de
mim. Anátema. Cortava como uma lâmina. Lembro-me de ter lá ficado, depois de o
livro acabar.