domingo, 15 de junho de 2025

Anomalia

Não o agora, mas o até aqui. O Homem é intrinsecamente mau, a bondade tem raízes biológicas menos fundas, e as conquistas civilizacionais esvaem-se com inquietante facilidade no conforto da liberdade vilipendiada. Emerge uma força antiga, ambígua, que nunca cessou de pulsar sob a crosta das convenções; o impulso de criação e de destruição, um desejo de ruptura mascarado de necessidade. Desvelação. A civilização é uma pele demasiado fina, sob a qual o monstro permanece alerta, incorrupto. “A crosta terrestre que esconde e abafa as explosões magmáticas”, enquanto, no seu ventre, a convulsão fermenta com vagar mineral, alheia à fé dos homens.

As novas tecnologias não inauguraram perigos: expandiram-nos, aceleraram-nos, refinaram-nos. Manipular a verdade, controlar a narrativa, construir um inimigo são instrumentos antigos de poder. Foi a escala que mudou. A volatilidade do tempo que demora a digerir a infâmia. Nessa pequena mudança, ampliou-se o bater de asas que fará ruir as democracias.