Na
verdade, o que celebro é a Língua Portuguesa. Nenhuma outra serve tão bem o
amor, o ódio, a saudade, a volúpia. A imensidão da serra cujo dorso vejo à
janela do meu quarto, ondulado, leito de nuvens plúmbeas em finais de Abril. A
língua como pele. Macerada. Há nela um tempo que se alonga, uma memória viva. Covil
de silêncios, porto de abrigo, palavras que guardam estilhaços e outras que se
desfazem no ar como pólen. Posso ler em mais três línguas, mas só esta me
alimenta. Só esta me despe. Só nesta cabe a vontade que tenho de ti.