segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

 

A primeira vez que vi Guernica ao vivo, o mural ocupando praticamente toda a parede da sala que lhe é dedicada no Museu Rainha Sofía, fiquei atordoada. A própria dimensão do quadro é violenta; magnética. É demasiado. Movemo-nos por dentro daquela devastação, somos outro cinza, outra sombra sobre aquele labirinto de destroços, e nenhuma distância é confortável: torna-se quase físico, como se, por momentos, mais do que observá-lo, o habitássemos na sua brutalidade tridimensional. 

Não sei até que ponto Pablo Picasso se sentiria homenageado pela arte de Carlos Rodríguez no seu Eterno. Gostei muito da primeira parte, e muito pouco da segunda – essa, supostamente, mais dentro da ousadia de Picasso. Mas a minha relação com a arte, qualquer forma de arte, é puramente instintiva, animal. Se me arrasta, se me fere, se me alegra; não sei nada depois disso.