Nem sempre subscrevo as opiniões de Daniel Oliveira. É o bom de ainda vivermos em democracia: podemos concordar (é o caso), discordar, sem pertencer a lugar nenhum onde nos queiram confinar. Certo, uma excepção, talvez, para aquilo a que chamamos lar, que será sempre mais do que casa. Adiante. Referia-me ao juízo sobre o Novo-Velho Banco, esse que apelidaram de Bom e, ainda assim, ninguém quis, até o Governo oferecer as carnes tenras em saldo e aceitar roer os ossos, se sobrassem. Se sobrarem.
Já me explicaram que nada poderia ter
sido feito de maneira diversa. Desde o princípio do fim que era sobejamente
sabido que os abutres – chamam-lhes assim e diz quem sabe que não será por
acaso – tudo fariam para rapar com gula o fundo da resolução, resolutamente,
sem remorsos nem espasmos de consciência, essa coisa de que apenas padecem os idiotas. E que, se não fosse assim, não seria de outra maneira, ninguém se
sentaria no banco, mesmo no Bom, que, do Novo, já ninguém se fiava, salvo-seja,
ainda o Mau mal abalara. E que não há direito a qualquer escândalo no pagamento
de dividendos a gestores que gerem coisas – parece que instituições bancárias e
outras de igual nível – que somam prejuízos como quem come cerejas, uma atrás
da outra, sem palavra que lhes valha, mas dotados de competente génio, capazes
de progressos admiráveis que não se convertem instantaneamente em ouro (excepto para os próprios), mas que
cumprem objectivos como quem toma hóstias: com devoção e fé num bem maior, ou
Bom, que se aguente. E aguenta. Haja fundos que nunca falham a quem percebe da coisa. Não merecem, portanto, ver as suas expectativas
defraudadas, ora essa. Exigir o contrário, pensá-lo apenas, é sacrilégio
populista. Não se admite. E o que dizer do aumento de 75%, mais coisa, nunca menos coisa, da remuneração base desses competentíssimos gestores de topo, (o que se podia fazer com isto, e não me refiro ao dinheiro) logo ali ao lado dos muitos milhões de euros de prejuízos? Nada. Não se pode. Pior que o populismo, só a inveja. Ou
o asco, de vermos como nos deixamos ludibriar sem um arrepio. “Nos”, nós, todos.
Portugueses, Povo, População, Estado. Menos aqueles que também chafurdam no poço fundo das várias resoluções que vão alimentando a orgia do gozo que é fazer bons negócios com timbre de estado, assim, em minúsculo como apraz a quem
deve dar de mamar, perdão, de comer, e calar.
Pode ser tudo muito legal, inevitável, o
mal menor, mesmo que nos tenham garantido que o Mau já não pesava na balança da
afronta. Pode ser. Mas, como muito bem escreveu Ana Sá Lopes, não deixa de ser
um escândalo. Fosse isto um penalti roubado a um dos outros donos disto tudo - ou um frango, mas dos mal metidos em baliza alheia - e era ver a indignação vertida em horas e horas de programas de comentário e análise…