sábado, 29 de junho de 2024
sexta-feira, 28 de junho de 2024
Antes
da tormenta Trump vs Biden, que me tomou parte da última noite, houve trovões e
relâmpagos. Deltas de luz azul estilhaçando o negrume da noite, e cornetas de
fim de mundo – um prenúncio de apocalipse. Sou capaz de jurar que tive
pesadelos, ainda que nunca me lembre.
Acabo
de ouvir, pela enésima vez, Germano Almeida afirmar que Joe Biden é o melhor
candidato para defrontar e derrotar Trump, em Novembro próximo. Não sei se se
faz comentário político no domínio da fé, mas estou disposta a aceitar qualquer
argumento que elimine Donald Trump do caminho da presidência dos EUA.
Apesar dos pesares, é impossível não admirar a coragem de Joe Biden. Não é fácil fazer frente àquele bulldozer; e, mesmo assim, depois daquele desastre, Biden foi à Carolina do Norte assumir-se na sua fragilidade contra aquele narcisista inchado e birrento, protofascista, ao lado de quem até Éric Zemmour no seu "La France n’a pas dit son dernier mot" (que eu comprei e li, porque sou doida) parece atendível. Menos mal, que os franceses têm Marine Le Pen – e Jordan Bardella, de quem nunca tinha ouvido falar, e, só isso, deve ser bom –, a relatividade aplicada à ciência política em tempos de cólera, sim, e desespero também: antes da América, implodirá a França?
O
Mal tem muitas faces e Donald Trump é uma delas. Não são as mentiras
extravagantes, a megalomania imberbe, o atropelo dos mínimos de decência; é aquela
permanente avidez de vingança, o fermentar da raiva que larva na sombra do pior
que há em cada um de nós.
Adenda: "Os sinos dobram por nós", Clara Ferreira Alves
RIP, América
Não era preciso ter visto o debate, para intuir que Joe Biden perderia o debate. Foi penoso. Joe Biden não tem condições para ser presidente dos EUA durante outros quatro anos. Não tem. É assustador pensar que é ele a alternativa a Donald Trump. Como é que a América se deixou encurralar entre estes dois, é uma coisa que nunca deixará de me espantar.
Será uma tragédia se Donald Trump ganhar as eleições, será uma tragédia se Donald Trump perder as eleições: Trump jamais aceitará uma segunda derrota – aquele 6 de Janeiro foi apenas um ensaio para o que há-de vir, e o que se avizinha não é bonito.
quarta-feira, 26 de junho de 2024
domingo, 16 de junho de 2024
sábado, 15 de junho de 2024
Dracula de Bram Stoker
“I am all in a sea of wonders. I doubt. I fear. I
think strange things, which I dare not confess to my own soul. God keep me, if
only for the sake of those dear to me!”
Voltei ao livro a propósito de uma coincidência idiota: quando vi, pela primeira vez, o quadro de Carlos III, achei que havia qualquer coisa de Dracula de Bram Stoker naquilo. Quase demasiado lisonjeiro.
Talvez uma das minhas histórias de amor preferidas, o Dracula de Bram Stoker. "Atravessei oceanos de tempo para te encontrar". Soa magnificamente. Fui rever o filme. Pela quarta ou quinta vez.
Um
mês e qualquer coisa depois, o quadro de Carlos III – que nunca foi consensual –
acabou vandalizado, dizem que irremediavelmente. Não interessa nada, é só a
minha mente, a circum-navegar o vazio.
segunda-feira, 10 de junho de 2024
Ainda me emociona o Hino, ainda celebro Portugal e o seu Poeta
Há defeitos piores, e padeço de muitos desses também.
Tenho um exemplar belíssimo d’ Os Lusíadas. Já contei. Um livro magnífico, velho e pesado, uma edição de MDCCCLXXX, assim, em romano, comemorativa dos trezentos anos da morte de Luiz de Camões, publicada por Emílio Biel com uma dedicatória “A Sua Majestade, o Senhor D. Pedro II, Imperador do Brazil”, em letra manuscrita, redonda e gorda, maiúsculas altas e elegantes de rabos longos e encaracolados. De vez em quando, retiro-o do seu abrigo e adoro-o. Na sua fragilidade imponente.
Por
pouco, esquecia-o a “ditosa pátria amada”. Mas, vale mais tarde do que nunca,
dizem (bastante discutível, no que me toca), e, para remissão dos pecados do
anterior, o novo Governo de Portugal decreta o baptismo com o nome do poeta do aeroporto que
há-de vir – quem sabe, no seiscentésimo aniversário, mas isso é outra discussão –, além de prolongar por
dois anos as comemorações dos quinhentos anos de Luís de Camões. Ainda bem.
Luís de Camões merece ser celebrado e, sobretudo, merece ser lido.
quarta-feira, 5 de junho de 2024
sábado, 1 de junho de 2024
O Sismo Taylor Swift
Isto já vem tarde, bem sei, mas, “lá tá” – como diria uma reputadíssima comentadora política em horário mui nobre num canal de referência –, estes são os meses em que trabalho horas indecentes, logo, quase não existo para tudo o resto.
Acho
que não sou capaz de reconhecer sem ajuda uma única música de Taylor Swift, mas
é o fenómeno que me importa. Sem nojo nem maledicências. Afinal, podemos nunca
chegar a compreender bem por que adoramos o que adoramos; ainda agora fui ver
os meus Depeche Mode e não me atrevo a jurar que não acamparia à porta, em caso
de necessidade. Além disso, diverti-me como se tivesse quinze anos, e soube-me
mesmo bem. A minha amiga brasileira diz que nunca entendeu bem a expressão: o
que é isso de saber bem? Pois, se tivesse ido ao concerto dos DM, talvez tivesse percebido. Ou ao de Taylor Swift, não sei. Não havia
desmaios, choro e ranger de cabelos na época áurea dos Beatles, numa devoção
exacerbada e histérica que culminou com a morte John Lennon? Talvez mais por
ódio do que por amor, mas a distinção nem sempre é cirúrgica.
Mas, falava de Taylor Swift. Os seus concertos em Lisboa provocaram sismos também fora dos corações dos swifties. “Nove estações na cidade de Lisboa detectaram energia sísmica decorrente do concerto no passado sábado”, noticiava o PÚBLICO no passado dia 28. Espantoso, não é? Talvez não tanto como o próximo: há quem defenda que a cantora norte-americana pode provocar um terramoto de consequências épicas, que é como quem diz, uma intenção sua, se expressa na voz alta das redes sociais, pode influenciar os resultados das eleições de Novembro lá nos EUA, o bater de asas da borboleta capaz de desencadear a tempestade perfeita. Parece absurdo, se é só uma cantora, diz o meu filho, mas não é só uma cantora, já nada é só coisa nenhuma, e o meu filho não é um swiftie, não é, sequer, de concertos, não lhe posso dar crédito. Há uma convulsão mediática que arrasa as razões que qualquer razão reconhece.
Donald Trump garante que não há qualquer hipótese de Taylor Swift vir a apoiar o presidente mais corrupto da história do país, referindo-se, obviamente, a Joe Biden. O líder espiritual da MAGA está cada vez mais próximo de poder matar alguém na 5ª avenida sem que isso lhe custe um voto; talvez até pelo contrário. Não há mal que se lhe pegue, e isto parece-me mais espantoso ainda que os sismos da Swift. O julgamento que acaba de condená-lo alimenta o culto do político perseguido por homens maus e doentes. Donald Trump nunca perde uma oportunidade para atiçar a sua matilha armada, cada vez mais hostil e ousada. Stand back and stand by, e se aquilo é gente que sabe esperar. A sua primeira eleição, em 2016, abriu um caminho sombrio, que parece sem retorno, muito para além dos factos alternativos: há uma audiência sedenta de sangue, saída das cinzas da raiva, que quer saber apenas de poder, no que o poder tem de pior. Não há verdade ou facto com que possam ser dissuadidos, é uma batalha perdida. Se a Democracia é a voz do povo, e há metade de povo rente à garganta do lobo, desejando ser devorado, qual é a alternativa? E como é que os Democratas não conseguiram encontrar uma alternativa a Joe Biden, a propósito?
De resto, há momentos em que sinto falta daqueles dias de confinamento. Porque sou egoísta e má, eu sei, e o meu mundo não desabou, apesar das perdas. Dos serões de ópera; do homem do saxofone alguns Domingos à tarde; do silêncio voluptuoso das ruas desertas, uma ausência palpável, e o tempo que parecia distender-se numa simplicidade trágica mas tangível, implacável mas limpo. Sinto falta até dos arco-íris pintados às janelas, do mantra pardo, vai ficar tudo bem, quando parecia que um vírus malévolo era a maior ameaça a este mundo alquebrado.