sexta-feira, 31 de dezembro de 2021
quinta-feira, 30 de dezembro de 2021
Devia
ter aproveitado o tempo que durou aquele lapso da DGS para ir ao cinema. Sem
teste e sem pipocas. Ninguém me apanha, por minha livre vontade, numa daquelas
filas intermináveis de testagem em série, e menos ainda em zaragatoamentos
públicos à entrada de eventos, por muito que o evento me apeteça. E
apetecem-me alguns. As pipocas no cinema podiam ser banidas. Definitivamente. Mesmo
sob o protesto do meu filho.
O
ano termina com balanços e promessas de renovação, como deve ser. Eu não balanço,
nem prometo. Vivo. Nem sempre tão plenamente como devia, mas vivo. Em cada ano
novo, mais intensamente do que no ano passado. A professora de filosofia do
meu filho pediu aos alunos que escrevessem numa folha uma palavra para definir
o futuro. O meu filho escreveu Morte, e não sei porque é que isso ainda
me espanta. Sei que, muitas vezes, é uma provocação, e, ainda assim, invejo-lhe
a renúncia.
Entretanto,
perdi-me na contagem das vagas e das letras do alfabeto grego; dos
números do pior dia de, do novo máximo, e todos esses
superlativos ameaçadores que os nossos jornalistas anunciam em pregões
vesúvios, tomados de incontroláveis fremências. Sinto-me capaz de aceitar
qualquer teoria da conspiração: do vírus que se escapou de um laboratório
chinês, à propagação do bicho por tecnologia 5G; da magnetização da zona
inoculada, ao chipe controlador do Bill Gates, passando pela negação da
pandemia, ou aceitando-a apenas como um expediente maquiavélico dos estados
democráticos para dominar os povos pela exaltação paranoica do medo. Estou por
tudo, porque há já demasiado a que começo a não encontrar qualquer sentido. Hoje.
Amanhã, passa-me.
Por
falar em cinema, prefiro um bom filme a uma boa série. Não tenho muita
paciência para séries. A última que vi inteira e merece tudo o que de bom se diga e se diz dela foi Mare of Easttown. Nunca consegui seguir a Casa de Papel,
falta-me a inteligência necessária para alinhar reflexões filosóficas sobre a
morte no Squid Game – achei demasiado ridículo o pouco que vi: não tem
nada a ver com o fenómeno violência; a violência de Joker é avassaladora
e tudo naquele filme é magnífico –, e não passei do segundo episódio de Glória. Diz
a minha irmã (de algumas séries portuguesas) que, às vezes, parece nem as falas
se entendem bem. Por vezes, parece-me o mesmo. É como se a língua portuguesa
servisse “apenas” aos grandes romances, aos poetas, às confissões dos amantes
murmuradas ao ouvido. A língua portuguesa de Portugal. A do Brasil também serve à música que se quer bem cantada. O pau, a pedra, o fim do caminho, o pouco
sozinho, a vida, o sol, a chuva chovendo, madeira de vento, mistério profundo,
o queira ou não queira, e eu ainda quero muito.
Bom Ano de 2022
Obrigada a todos os que se perdem por aqui.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2021
terça-feira, 21 de dezembro de 2021
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
quarta-feira, 15 de dezembro de 2021
De "Oil Dourado" a Saint-Tropez"
Somos um país que não cuida do seu e não cuida dos seus. Um país que se vende a retalho, de costas voltadas aos problemas da gente real; que sonha com os unicórnios das feiras que servem as vaidades dos empreendedores amparados por um Estado deslumbrado, que fala inglês, às vezes francês, e não se importa de servir de concierge aos grandes investidores. É assim que vamos deixando morrer um Alentejo entregue ao lucro das monoculturas intensivas e à exploração de mão-de-obra barata, no limite da escravatura, de onde as gentes da terra são enxotadas com fastio, enquanto parte do nosso litoral é entregue aos promotores dos “grandes projectos turísticos”, em negócios babilónicos onde vale quase tudo o que possa ser comprado, inclusive acessos privados a bens que são e devem ser públicos, uma usurpação descarada de recursos com a bênção dos nossos governantes. É isto o progresso?
Agora
que se volta a falar de “regionalização”, podíamos aproveitar para encher
emissões televisivas de análise e comentário, directos sobre directos, também sobre a
forma como delapidamos (ou deixamos delapidar) o nosso património. A "regionalização" vai servir exactamente a quê e a quem; vai fazer-nos mais atentos e presentes, ou, apenas, multiplicar cargos e carguinhos e saciar desejos de poder? Gastar com este assunto o mesmo tempo que
gastamos a espreitar os centros de vacinação, a afluência às farmácias para
comprar testes-covid, ou os interstícios da detenção – e, agora, da audição – de
João Rendeiro. Mas não. Talvez se isto fosse um fora-de-jogo mal marcado.
terça-feira, 14 de dezembro de 2021
"Fall, Leaves, Fall"
Rui Rio é um desastre comunicacional sempre à espera de acontecer. Não é possível tanta falta de habilidade. O homem parece empenhado em esmagar num dia o pouco que foi capaz de consolidar no dia anterior. Alguém que o convença a apagar a conta do Twitter; ou, no mínimo, a contar até dez antes de publicar o que quer que seja, por precaução. Não sei, um duche de água fria, declamar um soneto de Bocage, qualquer coisa que o refresque e o distraia antes de cair em tentação. No limite da paciência, digam-lho em alemão, pode ser que resulte melhor. Ainda assim, continuo a pensar que o Twitter tem a demoníaca capacidade de despertar o Mr Hyde que há em cada um de nós. Um estranho caso, efectivamente.
No
resto, Rui Rio tem razão. Também achei pornográfico o desdobramento em
entrevistas a que se prestou o director da PJ. Não tendo sido por desejo de
protagonismo – e creio que não foi –, sobra a demanda por reclamar um orgulho
ferido de morte. Também é importante, mas soa quase a desespero. Teria bastado aquela conferência
de imprensa da parte da manhã.
Esperemos,
agora, que a montanha de vénias e parabenizações exaltadas pelo alívio de nos mostrarmos menos papalvos do que Rendeiro nos fez parecer, não venha a
parir um rato – mas não é cinismo duvidar. A advogada de João Rendeiro já fez
saber que a extradição do nosso contentamento – e encantamento – colectivo
poderá demorar anos. Que os tempos de lá não são os tempos de cá, e,
francamente, não sei bem que tempos serão os mais inférteis em matéria de
justiça. Os de cá parecem ser sempre os tempos adequados a garantir o eterno descanso
dos prevaricadores. De alguns, evidentemente. Eventualmente, de prescrição em prescrição até que a morte, finalmente, separe o criminoso do crime. Ou o inocente da possibilidade de reclamar reparação, o que constitui outro atropelo insuportável. E não há nada de justiça em exibir, nas televisões, a imagem de um João Rendeiro em pijama no momento da detenção; não tem nada a ver com o que eu penso dele, e penso muito mal.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2021
domingo, 12 de dezembro de 2021
sexta-feira, 10 de dezembro de 2021
Estamos sentadas lado-a-lado, num banco de madeira corrido e pouco robusto. Ela aguarda a hora do casting e eu acompanho uma amiga no mesmo propósito. Estão a rodar o Legionário e já avistei, de longe, o herói. O que o grande écran faz de um homem. É bastante mais velha do que eu. Mais eloquente, também. Fala atirando para trás o cabelo negro, em gestos rasgados, ensaiando poses que fazem tremelicar os adereços emprestados pelo staff entre mil cuidados, como quem roga pragas. Conversamos fundindo o espanhol e o francês numa amálgama frequente e natural por aquelas paragens, até eu dizer que sou portuguesa e ela me atirar um eu também! estridente, antes de puxar do passaporte, que reluz com alegria e uma excitação desmedida, num alvoroço improvável que atribuo menos à exaltação da nacionalidade lusa e mais ao aparato dos cenários e à exuberância do guarda-roupa que enfeita a sala-de-estar improvisada. Ingenuamente, pergunto-lhe se fala português. Não fala. Não sabe nada de Portugal, a não ser que não pertence a Espanha, o que já é bastante e nem sempre evidente a um estrangeiro, mesmo nos nossos dias, e estes que recordo estão tão longe que me parece impossível. Vai começar a explicar-me que deve a nacionalidade ao avô paterno, que era português, quando a chamam, em pressas retumbantes, a prova, é a hora da prova, e não chego a inteirar-me da dimensão da sua jovial portugalidade: se esgotada nas páginas do passaporte, se enraizada na profundez da pertença a uma causa maior.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
Uma
amiga ligou-me para, diz ela, me ouvir rir. Os dias não andam para grandes
piadas, mas é verdade que, quando nos encontramos, seja apenas pela voz,
acabámos sempre por rir de uma parvoíce qualquer, do passado ou do presente. O
futuro é demasiado precioso para antecipar.
Frequentemente,
perdemo-nos as duas em coisas inúteis. Entendemo-nos de forma quase
telepática, e isso eu sou capaz de compreender. Conhecemo-nos há anos e a
empatia foi imediata. É essa outra cumplicidade, alquímica, forjada apenas em
palavras escritas por mãos desconhecidas e, ainda assim, visceral, que me
espanta. Ainda não lhe falei de ti.
Vacinar ou Não Vacinar: Mais do que Uma Questão
Nos
últimos dias, ouvi várias intervenções do presidente do Colégio de Pediatria da
Ordem dos Médicos. Entre outras coisas, Jorge Amil Dias, referiu que o estudo
realizado em crianças dos cinco aos onze anos – de cuja avaliação pela Agência
Europeia do Medicamento resultou o parecer favorável à vacinação de crianças naquela
faixa etária – avaliou, apenas, se as crianças desenvolveram anticorpos: “não
mostrou que aquela população ficasse mais protegida, não mostrou que tinha
diminuído a contagiosidade ou que tinha alterado a epidemiologia". Referiu,
ainda, que “a vacina tem sido muito eficaz a evitar mortalidade, a reduzir
morbilidade nas populações que têm esse risco”, mas, “não impede a transmissão,
nem a aquisição do vírus". Além da reduzida dimensão da amostra.
Jorge Amil Dias não é um perigoso negacionista, que eu saiba. E, devo dizer, os negacionistas, mais ou menos chalupas, merecem todo o género de piadas que se possa urdir à sua custa. Mas, há-de haver um meio termo entre a alucinação anti-vacinas-barra-teorias-estrambólicas-da-conspiração e a outra, para onde parecemos estar a resvalar, mesmo os que, como eu, são pela Ciência, nomeadamente, pelas vacinas. As dúvidas sobre os benefícios de vacinar crianças entre os cinco e os onze anos são mais do que legítimas, face ao que (não) se sabe até ao momento. Qual é a normalidade que a vacinação em crianças daquela faixa etária vai trazer? Há dúvidas ou não há dúvidas no binómio risco/benefício, naquela faixa etária? Aparentemente, há. E usar a vacinação de crianças tendo como maior benefício a prevenção de confinamentos – mesmo sabendo que o “confinamento” seja potenciador de problemas maiores de saúde mental, limitação de aprendizagens, e outros igualmente preocupantes – parece-me uma subversão do acto de vacinar.
Se isto não é uma forma de chantagem, parece.
sábado, 4 de dezembro de 2021
sexta-feira, 3 de dezembro de 2021
"Eu sou passageiro"
Às
vezes, bastam poucas palavras para denunciar o carácter de um homem. Eduardo
Cabrita é um homem fraco. Do carácter dos cobardes. António Costa não pode
continuar a compactuar com isto, a não ser que seja feito da mesma massa. A que
“aproveitamento político” se refere o senhor ainda ministro da Administração
Interna? Deve ser o “aproveitamento” que o próprio agarra com o zelo dos infames.















